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OroborO

"Meu fim é meu começo" Constatou, ainda que tardio E, de encontro ao vazio, Fez jús ao ser avesso. * Ascensão por equivalência. Depôs a ingenuidade Depois, ao si covarde, E entregou-se à impermanência. * Fez-se ciclo que não cessa No Ir-e-vir imensurável No instante, o instável! Tomou o Caos como promessa. * Os opostos em comunhão, O acaso afogado na areia. O Todo é teia. Ampulheta: delicada transição. * Os nós frouxos e a corda partida Apossara-se do leme com firmeza Agora era-se a correnteza E apenas o contemplar da âncora ida. * Em posse da guia de oito apoios Soube-se breve, mas pertinente E, como ele, tantos outros dirigentes Mas, além do trigo; em terra, o joio. * Convicções contrariadas no desvelar: Quanta ingenuidade! Pois toda aquela emancipação, por ansiedade! Afinal, o Uno é par. * A serpente exalta: tudo tem preço! Mesmo a cura, provém do veneno. E, depois do susto, constata sereno:

Prelúdio: de mãos livres.

Antes de encerrar-me, disponho-me em linhas livres. Ainda consciente do ciclo sem brechas, o retomar constante: nunca houve início ou fim; coloco aqui uma pausa forçada. Retrocessos, esclarecimentos posteriores, monólogos internos ( e agora expostos), em uma pretensão de serem marcados por um relógio estático. Não! Tudo continua em seu eixo: do caminho às cinzas, à reconstituição inesgotável em cada simples processo; fluxo individual que compõe o todo. Mas esta é a vontade manifesta. É o que se diferencia de quem se deixa aguar ou quem vá se frustrar. Aqui & Agora é em que me torno: pleno. --- O tempo, enfim, justificou-se em estrañeza quando pude concebê-lo como a- linear. Confesso o quanto de energia toma-me o ato de "ver" o TODO assim, mas a questão é enxergar a ONIPRESENÇA do tempo. Ainda que seja uma tarefa delicada: à toda sincronia, uma causa & à todo acaso, uma morte! com o tempo explanado, o estraño , então, talvez morre. Ou, talvez, o estraño já tenha se

Ouro de Tolo

A mesa de cacife alto exige movimentos cautelosos: pertinência no agir .

Ensopado

As gotas correm por um rosto deformado que sustenta, no entanto, os mesmos belos traços de sempre. Desleal: que lhe falta um sorriso nesta face ensopada pela chuva persistente e sobra-lhe alguns pensamentos pendentes, vestígios de sua intensidade voluntária. Ela ficara marcada em seu semblante. E com o vidro do ônibus de volta embaçado, a ausência da coragem em imprimir-lhe algum desenho, alguma frase. Deixara de ser impetuoso: pensava em quão definitivas seriam aquelas palavras contidas, o receio de encarar-se em versos curtos que lhe refletissem a indecisão. Mais: sua impotência perante o destino. E a despedida que se fez ligeira. Que se fez insuficiente, que resultou nestas palavras. Mas, querida, ao contrário de tantos outros aos quais eu deixei subentendido o mundo em versos, idênticos a estes!, à você a necessidade de ser explícito. Tanto, que me marcas diretamente no rosto, em olhos pequenos e distantes, pensativos numa solidão conveniente. Tens, então, longe daqui, destas linha

Fardo

de devaneio dominical & das frustrações de fazer “ apoteose " inteligível oralmente. lido, ironicamente, no Sarau dos Vira-Latas . . . . Fardo Há textos que não cabem na leitura para terceiros. Ainda que declamem-no com ardor e intenção; ainda que a voz tenha a entoação adequada para perfurar qualquer obstáculo sonoro e fazer-se triunfante em um ambiente; ainda que o intérprete consiga reunir a atenção de seus expectadores e colecioná-la com uma satisfação fria, como fazem os poetas: manipulando as palavras que os agradam e encaixando-as com destreza em uma composição majestosa.  Há frases indecifráveis aos ouvidos, há palavras cuja voz é incapaz em proferi-las. Um texto carrega rasuras, texturas, borrões! De café ou de um vinho barato, que preenchem-no as lacunas e completam-no no contemplar. Um texto e seu contexto: ilegível à língua. E que esta tateie, no escuro, à vontade! Mas as entrelinhas escondem o essencial e há segredos que não se revelam à luz d

Da Liberdade

A liberdade "real" só existe a título de ilustração. Quando se compreende o que ela é, em essência, compreende-se que não se pode obtê-la. E, assim, responsabilidade para lidar com tal condição humana... a utopia jaz na mente de incapazes.

Instinto

Aquele que não anseia novos ares descobre-se inconsciente de seus próprios pilares.

Da curiosidade

Identificada aqui como instinto humano, numa pitada de sarcasmo que a tempera: pois se não pra ouvir confissões alheias, qual outro mérito em ser padre?

Cartas Marcadas

Pra começar, eu nem sei como. Errante, azarado! Que nesta mesa eu perdi até o sono Pensando-me: o verme ou o arado? E na estrada, dividido A cicatriz na terra. O curinga embaralhado: fui traído... E nestes montes, dedos se confundem com serra. Grãos não dão trégua E toda frase é uma aposta Palavras imprecisas como léguas Silêncio interminável como resposta. Conclusões se desequilibram em abismos E o garoto debruça-se sobre sua alma O jovem perdura em seus cismos E o velho insiste em lhe pedir calma. Em devaneios, um arrepio: Pois todo fim é só um meio. Mas há quem espere palmas ou assobios Viva para o delírio alheio Os ápices foram cancelados A cena, apoteótica, estendida! O acaso descartado E a ansiedade pela despedida... Não haverão créditos & não teremos vencedores. O destino é uma farsa, assim como o é quem dele faz graça. O jogo é contagiante apenas para quem é novo no barco: A sorte é superestimada.

Amor Louco

E quando tiveres um Amor Louco, conte-nos uma crônica.

Leves Deslizes

ao som de Constantina Vem-lhe, então, o mundo inteiro, em seu peso & pesar, debruçar-se em suas costas & encharcar-lhe em lágrimas escorregadias que lhe inundam a dúvida & recheia-lhe de incertezas. Vem-lhe só. E, precavido, nem espera ser acolhido. Desacreditado, não espera nem ser notado. Mas pesa. E pesa mais do que um mundo só. Pesa mais do que uma vida de solidão; o suficiente para fazer os ombros cederem. O peso do desequilíbrio.

Demasiado

Sabia bem que o amor os separaria em breve. Convivia com esta convicção desde que o conhecera, desde que o despira por inteiro com olhos detalhistas, num fascínio embriagado de quem se depara com uma história de mil-e-uma páginas e uma capa atraente. A estante é alta e está repleta de livros interessantes. É um universo de páginas e cores e letras aonde a curiosidade pulsa involuntária e o tempo se abstém na contagem – não o perceberia voar ainda que o relógio da parede badalasse em um estrondo não habitual. E, com estes olhos, era fácil deixar-se perder ali. Prendia o ar para imergir nestas águas quando deu-se conta de que nem sabia por onde começar! E as opções eram tantas, o cardápio era tão variado que perdera-se antes de entrar no labirinto. Extasiada, permaneceu apenas a encarar a pequena biblioteca lendo título por título e tentando decodificar algum padrão para a ordem de disposição dos livros. Não achou padrão algum. Ou talvez tenha apenas se distraído em meio às capas e

Tratado sobre a Percepção

"nada é verdadeiro, tudo é permitido" Hassan-i Sabbah convocado à existência detalhada em que o simples não se esconde, senão dos olhos do grosso... e pela transmutação da percepção, depois de vista não há volta. é como o amor à primeira vista, que só vai se configurar "instantâneo" nos olhares posteriores. é como a palavra precisa, que só a é por estar contextualizada. é o tempo, que intervém com naturalidade, indisposto a fazer considerações... e nos basta o agora! pois façamo-nos permissíveis em imaginação, já que nada é verdadeiro.

Inflexível

Faço o que eu quero sem me preocupar se é ilegal, imoral ou irreal.

Cifrado

num dia eu sou sereno, no outro eu sou veneno assim me altero & me alterno. num dia, paciência: espero... no outro, indolência: Inferno! sincero, ainda que enfermo. de semblante incerto, sou dúvida em questão curiosidade me implora desnudo, mas é questão de humor... conheço mil-e-um sorrisos para fazer meu silêncio inteligível .

Fome

As palavras viriam? Mas sinto que meu silêncio é perturbador; estou certo? E, se quem calas consente, sôo incerto o suficiente para teres me decidido por mim?! E as palavras vieram, realmente! E que lhes dizem?! Se já sou um enigma despretensioso, imaginas-me o intuito! A compreensão só se faz ilegível por ser simplista. E a liberdade fora mesmo podada! Quisera eu vê-la crescer uniforme, mas não: desgarrada. Não rebelde como o CAOS, mas apenas intolerante. Crescera alheia e florescera apenas frutos de vidro! Reluzentes, porém duros. Ó! DISCÓRDIA! mas a fome já me fora saciada...

Roupa de Cama

O quarto escuro pertence apenas a nós. O mundo se perdeu por detrás daquela porta e os únicos vestígios da realidade são as gotas da tempestade que molham nossos corpos ao adentrarem pela janela. As cortinas dançam sobre nós. Formam um véu que nos coloca sob a chuva, diante de uma imensidão de nuvens cinzas... e por que não? Estamos no céu! A cama estreita nos ajunta. Encostada à parede sou feito refém! E tu dormes tão serena que me envergonhas; Tens os olhos tão tranquilos que me preocupas; O modo como te sentes à vontade me causa um leve desespero. Adormecestes agarrada ao meu corpo, como se eu pudesse desprender-me... como se já me conhecesses há tempos! E, realmente, eu não sou insomne, mas não duro muito embaixo de outros lençóis. Também não sou de perambular pela casa: aprecio o silêncio durante a manhã, de forma que até meus passos me causariam incômodo, portanto o ruído usual é o da porta da frente recostando-se levemente e encerrando as noites de forma definitiva. Sabe? Eu ta

Combinação de Infinitos

ao som de This Will Destroy You - Quero que me olhe nos olhos. Ela fazia questão daquilo. Tinha seus motivos, toda sua desconfiança e seus truques para reconhecer palavras insinceras. Mas, mais do que tudo isso, tinha um par de olhos cinzas que me encurralavam. E absorto, eu quase não tinha palavras: – Eu não consigo. – Tenta... – Era uma proposta, e ela me encarava irredutível. É posto à parede que as particularidades se exaltam. Afinal, dois só se reconhecem em momentos ímpares. – Eu... não sei lidar com sentimentos abruptos, essa profundidade repentina... – Teus pés não alcançam o solo? – Perdão? – Há quanto tempo vives nessa maré baixa? Sabes... há rios ansiosos para desaguarem em um oceano, mas eles vão se perder no encontro. Entendes que apenas os peixes enfrentam o curso, e mesmo eles, para dar continuidade? Este teu raso é um monte de areia ajuntado, grão após grão. E quanto trabalho para tamanha fragilidade... Por que não abres mão do deslize que é inev

Enumerado

Antes, dois eram um e essa matemática fazia sentido. Agora o sentido extinguira-se e, menos do que um, eram dois; cada qual com a sua jóia, carregando o mundo nos dedos.

Antes que o mundo acabe

O Gênesis como um matrimônio. A cria deslumbra-se sincera consigo Depara-se com o todo e tudo é apenas um e, em imagem e semelhança, sente-se completa, enfim. A dúvida permanece, eterna No entanto, a convicção momentânea do paraíso; e é isso que nos compõe mortais! O tempo, intocado, recebe radiante o juramento de eternidade enquanto os dedos são suaves ao receberem a troca e assim o homem se divorcia da natureza Mas, antes que o mundo acabe, o homem hesitará. E quando o fizer haverá aqueles dois segundos de fricção do esforço de separar-se da aliança. Dois segundos eternos, de pura reflexão.

Máxima

Semear o caos e apreciar o efeito.

Bússola

Certo seria se agora eu estivesse me sentindo perdido. Seu tanto faz me deixa doente.

P&B

Abraçou-me enquanto meus braços pendiam, caídos, colados rente ao corpo. Eu permanecia inerte, imóvel em minha introspecção, porém presente, atento e ansioso às palavras que eventualmente viriam sopradas em forma de um sussurro. Desde o contato com os seus braços as cores se foram e, novamente, meu coração batia acelerado, naquele ritmo esquisito de quando você está perto. Uma ansiedade engasgada, um cortejo desalinhado com passos estrondosos que me desconcertam. O rosto escondido em meu ombro, de braços abertos a me enlaçar, e no entanto, talvez, mais fechada do que nunca. Encoberta em seus motivos, não há espaço para hipóteses, mas todas as palavras são imprecisas e ressoam tempo demais em minha cabeça: ou em um ensaio ou em uma memória. Sou público, mas não me publico. E, de pensamentos tão privados, minha boca permanecerá cerrada. Sem graçejos, desta vez.

Ansioso

já não faz muito sentido diferenciar letras maiúsculas das outras. já não tem porquê contar os dias, os beijos, as horas... soa como se o tempo tivesse passado tão rápido e eu ainda nem cansei de consultar meu relógio.

Copo d’água

Acordar, agora, é a recomposição do fôlego. É como se, há muito, eu estivesse preso em um mergulho forçado e duradouro! E nunca houveram pesadêlos que traduzissem a aflição de ter a respiração privada desta forma. Envolto em um oceano traiçoeiro que expõe-me, convidativamente, águas domesticadas & que me apunhala (o ego!) com o reflexo da simplicidade e do ser comum: incapaz em seus caprichos! Porém a gravidade endossa-se: O castigo transcende a lição de moral e quando tenho-me são, guardado de volta à minha estante, de volta ao meu ciclo que eu, ingênuo, achava-o hermético, então o reflexo não é só do ego despedaçado; mas também o de um corpo rasgado e marcado pela experiência, real, até demasiadamente. E quando vejo-me desesperado, nessa ânsia pelo oxigênio, satisfeito por respirar; Quando vejo- me contente de possuir ar em meus pulmões é quando descubro-me ridículo! E a descrição dos fatos me vêem em uma única palavra que se impõem imperativamente como insubstituta: INFANTIL! E

Inédito

Sou doado demais à minha vontade para ser previsível.

Melodioso

Como um jazz que se alonga noite adentro E as palavras que se encaixariam perfeitamente nas entrelinhas, mas são desnecessárias. Como um sussurro ao pé do seu ouvido, O calor da voz que provoca o estremecer, porém mudo. As frases de impacto decoradas & ensaiadas morrem todas antes da pronúnica e são só reticências... E cada ponto do que eu tenho a dizer é um mero movimento de lábios. Cada letra calada é um suspiro. Cada respiração involuntária é intensa. E, ofegante, tem os olhos fechados e um sorriso suave, extasiado. Eu aplaudo o maestro, confrontando-o em frente ao espelho. Tudo soa como música aos meus ouvidos.

Apelido

Arranca-me um sorriso, pois meu nome é angústia. E tens-me raro: que não costumo ser sincero com meus desumores. Mas, afinal, o elogio é um desafio. e eu mesmo sou um mar de rosas – infestado de espinhos.

Distraído

Sempre fui meio desligado. De andar contra a correnteza das multidões e sair embaraçando-me em destinos alheios, lendo poesia em palavras caladas e distraindo-me em detalhes despercebidos. De afogar-me  na maré do cotidiano por estar entretido com o passado. E me ater aos acasos e encontros que a vida promove; deliciar meus olhos em caligrafias deixadas ao vento, meus ouvidos em conversas vizinhas, meu olfato em essências tímidas – e que para mim gritam. Ser tão impulsivo em sentimentos! E, no entanto, ser contido; tido apenas em olhares demorados, em silêncios inspiradores, em expressões faciais que revelam o que o nó dado à garganta encerra.  E ser raro, restrito. De pensamentos privados e sorrisos enigmáticos. Mil-e-um deles, ambos. E quantos destes não me pertencem? Despertos num devaneio ou numa afeição instantânea... Pois apaixono-me diariamente! Coleciono o que tanto me intriga, sublinho meus interesses nos passantes, perco meu fôlego e deixo-me arrastar, almejando ser leva

Nu

Quando saí de casa ao seu encontro vestia uma camisa de botões, inseguro sobre o tempo. E o vento que me alisou ao dobrar a esquina fez-me até considerar a busca de um agasalho... Mas, de fato, não há como amenizar o frio que se sente na barriga.

A etimologia mente

Favor não confundir caos com caô, amo com amor, gesto com gestor.

Tortuoso

Os olhares tateiam-me e a loucura tatua-me. O tempo, torcido feito toalha, se esvaiu sem deixar trocados; dobrou a esquina amarrotado, e foi ter com o solo, tonto. A queda foi o acertar-se dos ponteiros: desorientados, já não sabiam para onde correr neste extenso labirinto. E eu provo a tinta e conquisto atenção: que venho confundindo as datas e as luas e me perdendo nas demarcações dos calendários.

Além do que se vê

Garotos, tímidos em seus diálogos desconexos, disfarçam-se em excentricidades. E se fazem falsos para com os demais. Mas não! Incompreendidos, apenas. Garotos carregam consigo suas advertências, expõem-se em ares seguros. Mas suas introspecções constantes, seus pensamentos longínquos, fluídos ao silêncio de quem se perdeu por aí... Um estoque de passos tortos e algumas moedas no fundo de um bolso surpreendido. Palavras atadas à garganta e a boca seca, desgostosa. Pois garotos transbordam tranquilidade. Mas o excesso prova-se descontrole. E têm um par de olhos inquietos aonde se lê o desespero. Feitos fortaleza, resistem em um orgulho desonesto. Vêm as horas, discretas, amontoando-se furtivamente para, de forma impiedosa, anunciar um amanhecer impreterível. O sol urge e já é hora de pisar em casa. Lágrimas contidas não deixam rastro.

Sobre o Alívio & Sobre o Fascínio

-Sou apaixonada pelo seu silêncio. O sussurro, infestado de meias palavras sorrateiras, trouxe-me de volta ao real com um susto. E o coração, interrompido, não se decidia pelo motivo. Próxima ao meu ouvido eu pude presenciar sua respiração tímida e, em dois movimentos, meus ombros estavam cobertos por seus volumosos cabelos. Pôs-se em minha frente, a encarar-me, procurando uma resposta qualquer em meu corpo. Seus olhos, intensos, imploravam para fluírem com seu ímpeto habitual. Que queria explodir em palavras e em reticências. E no entanto seguia fria, de expressão calculada, a me testar? mas calada como estive há pouco; como permaneci. Demorou-se um pouco mais diante de mim. E doce, não me cobrava respostas; apenas as esperava, consentindo minha ausência sonora. E ela amava estar ali consigo mesma e comigo ao mesmo tempo. E leu em mim a reciprocidade. Por fim um sorriso contido iluminou sua face contando-me sobre o alívio e sobre o fascínio. Então se retirou. ...deixando comigo seu ch

Fail

'cause you took a "f" from your LIFE . and then, it's just a LIE . a big one.

Palavra

que seja cobrada a honra dos que dão sua palavra & a língua dos que não a dão.

Indefinível

As nuvens casam-se sobre mim. Interpõem-se sem qualquer pudor e dão novas formas ao céu. Minha imaginação, dotada de asas, alcança o paraíso. E nessa altura meus olhos já foram tomados e encerram-se diante dos raios do sol que cobre minha face. O céu se desconstrói e eu me faço daltônico: as cores perdem suas individualidades e tornam-se ilimitadas. Tenho, então, o Todo ao meu dispor. As sombras, extintas, assim como as dúvidas, revelam-me o céu aberto, imponente em sua simplicidade. E o despertar faz-se segundos antes do abrir das pálpebras. E a meia constatação define o caos, indefinível: “ tempo estrano ” Pois nada é verdadeiro; e tudo é permitido.

Delírio

“Quer pouco, terás tudo. Quer nada, serás livre” Fernando Pessoa O mundo se delicia em suas entrelinhas. Enquanto as passagens, transições, fazem-se ligeiras e indelicadas, o eterno permanece intocado. O apogeu é atemporal. Incompreendido em essência, e relevado em detalhes. Nem o relevar, nem o revelar. As frestas aos curiosos, o despertar aos desapercebidos. E os despercebidos contentam-se com o palpável. A pretensão matou a expectativa. A palavra, desprendida do papel, difere-se da ovelha desgarrada do pastor, em liberdade. O infinito abomina descrições. O homem, despido de desejos, depara-se com a vontade, como em um reflexo de si mesmo. Aquele que atravessa o espelho torna-se, sobretudo, divino. Aos demais, insuficientes em suas reflexões, sobra o fardo narcisista.

Desencontros

Quis tanto te contar o quanto tua, nossa, cena me marcou que até me esqueci o que ia dizer.

Soneto

Dizeis-me que sou um poema. Que agrado à todos, cada um com suas contentes lembranças que tiram de mim e que, afinal, em essência, não sou nenhuma destas lembranças. Dizeis-me que sou esta poesia porque trago alegria, mas, por trás de máscaras de palavras, este sim, sou eu, triste. Dizeis-me que me queres curto, para que possa levar-me contigo no bolso, sem que o vento ameace tirar-me de ti. Mas, querida, esqueces que a poesia é livre; e esqueces que a tristezza é complexa demais para ser curta. E que mesmo o curto não está a salvo do furto. E dizeis-me que me queres rimado. Que ressôo como eco em teus ouvidos por horas a fio. E lhe desperto calafrios ao som das lembranças dos sussurros. E, posso sim, ser melodioso. Mas não me peças para ser métrico, que sou inconstante demais para isso. Exigistes de mim o término em reticências, mesmo sabendo-me ser tão definitivo... E sabeis que a minha vaidade não permite um refrão extra após o ponto final. Que, se afinal sou um poema, sou um soneto

Suor

, As cartas mais belas são aquelas cheias de rasura. Encenam a dificuldade de serem escritas, o ardor com o qual o autor escolhe as palavras e o tremor que lhe afeta. Que uma carta pressupõe um amante. As palavras exigem algo além da indiferença e o capricho se esvai ao toque da sinceridade: Não pude maquiar minhas sentenças tortuosas e ilegíveis. Reescrevê-las seria reescrever-me. com amor. Ps: a ausência do perfume usual. Ps²: e, ainda assim, sei que tudo isso lhe cheira tão doce...

Divergência

“As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios provam apenas que a vida prossegue e que nem todos se libertaram ainda” Carlos Drummond de Andrade  - O vento bateu tão forte que carregou consigo a iluminação. O suporte da vela jazia no chão ao lado da rolha ainda úmida pelo doce veneno rubro. Nesta cena fora de foco as longas cadeiras ostentavam dois lugares vagos. As estrelas da noite haviam fugido e o abandono se fazia ainda mais gritante quando a lua, solitária, era feita de holofote. E o feixe de luz, perdido na escuridão, vagava pelos labirintos que eram estes motivos insensatos. As taças largadas pela metade, num desperdício penoso. Os talheres, intactos, faziam-se sem sentido. As palavras, tão ensaiadas, nunca chegaram aos ouvidos, e uma hora a música cessaria. Todo aquele cuidado com as escolhas provava-se inútil: as faixas chegam ao fim. E, no silêncio, o vento uiva ardorosamente pelas frestas da janela, triunfante sobre a chama extinta.

Soul

Apenas sou . ...and then I f l o w .

Legenda

Desfeito, encontro-me comigo mesmo. Ignoro o relógio; sou pontual. Tenho-me em minhas mãos, completamente entregue. E agora, em meu íntimo, juro que esta será a última vez que me traduzirei. Que as frases e linhas, se serão lidas com ardor, malícia ou ingenuidade já não mais me importam! E também já não cabe a mim fazer com que elas cheguem a quem lhes possuem... Que o possuir é vago demais. A dedicatória é fingida, a introdução persuasiva e as notas sobre o autor nunca se diferem umas das outras. As apostas sobre o fim já foram feitas; o jogo de azar é envolvente. Mil e uma expectativas e todos eles estão cheios de razão. E a razão matou o amor. E o amor, morto, matou o autor. E este se desfez. Mas desta vez, de outra forma...

Dandelion

ao som de All India Radio - "Morning Drops Ambient" Talvez eu tenha me desfeito no momento em que te conheci. Talvez você realmente tenha me tocado. Com uma mão delicada que tencionava ser suave mas força o limite e rompe cada um dos frutos de um dente-de-leão. E talvez, Flor, este seja eu. Esvoaçado, sou apenas vestígios pelo concreto. Sou pensamentos despidos, emoções ao léu... Sou passos vacilantes de um nômade perdido. Sou, enfim, romântico.

Meio a Meio

Que talvez fosse cedo demais. Mas talvez o tempo fosse medido pela vontade. E talvez o tempo era mesmo curto por que a vontade era demasiada. Que o tempo se tateava no medo do não ser recíproco e a vontade se envergonhava de ser tamanha. E ambos se encaravam almejando serem um pouco mais equivalentes. Mas o tempo, que queria ser tão maior, era tão lento quando estavam distantes que até nomeava a vontade de “saudade”. E a vontade, que era tão imensa, se escondia com medo de ser notada e taxada de precoce. E viviam tão inquietos que quase se esqueceram que só faziam sentido juntos. E quando o tempo se declarou para a vontade, da pontinha de seus pés para estar mais próximo aos olhos dela, ambos aquietaram-se em um olhar demorado. E talvez o tempo fosse mesmo medido pela vontade.

Enfim,

"Que comece agora e não termine nunca."

Insônia

ao som de Bonobo - "Sleepy Seven" “Você não vai conseguir dormir” repetia dentro de sua cabeça a voz em tom resoluto. A escuridão confortável àqueles olhos sensíveis extingue-se com a porta abrindo-se. O dia nasce e quer entrar e os pássaros comemoram longe. O quarto velado por roncos leves de quem está em repouso profundo e o barulho da goteira que distrai quem não tem este conforto. A paz alheia sempre trouxe muita inveja ao mundo e há aqueles que não conseguem se aquietarem instantaneamente, com uma cabeça incessante quando todos já desmaiaram e foi anunciado o término da festa. Pensamentos que sufocam sonhos, o sono perdido na noite finada. A tranquilidade do ambiente se desfaz num tormento próprio, invisível aos demais: Morpheu renegou-o e o dia é um fardo. A porta aberta revela a poça de água se expandindo por um chão tomado de cobertores e colchões, entrelaçados em uma orgia de roncos e suspiros da qual ele havia sido excluído. Que se afogassem todos num son