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Mostrando postagens de agosto, 2010

Néctar

As estações estão prestes a mudar. Antes eu pensava ser uma troca, sabe? Uma chegava e a outra consentia em se retirar e estava tudo certo. Do inverno íamos à primavera e tudo ficava florido: as crianças faziam em seus desenhos sóis sorridentes, as pessoas se empolgavam em aposentarem no fundo do armário seus casacos pesados e até as abelhas e borboletas se preparavam para voar de flor em flor em busca de seu néctar. Eu acabei descobrindo que não é bem assim. O sol se impõe à força e atropela as estações. Parece-me até que o verão pretende pular a primavera, furar fila na cara-de-pau e irradiar o calor que lhe é tão característico. É como se o inverno tivesse sido encurralado ou andasse em uma ponte, dessas de navio pirata, com uma arma apontada para suas costas que o fizesse andar passo a passo em direção ao oceano. O abismo abriga estas estações vencidas, todo este passado que vem à tona. E é muito estranho falar de passado... nesta carta atemporal. Passado não temos. Talvez alguns r

Fim de Festa

E o que nos resta? A fome. Que só ela guia nossos corpos circundados por trapos imundos de volta aos nossos lares em passos cambaleantes acompanhados de desejos ainda não saciados. Desejos nunca saciados, insaciáveis. E amanhã eu vou acordar com o gosto de álcool na boca meio arrependido por não me lembrar de todos os fatos, mas por enquanto, em minha semi-consciência, eu ainda quero mais.

Elucidação

O susto. Três toques repentinos na porta de madeira. E a campainha reforça: A loucura me visita. Trouxe-nos chá. Muito agradável, por sinal. E ao contrário do tempo que evapora diante do conforto, nossa tarde estende-se, iluminada pelo sol. Gosto das sombras da sala de estar. Elogio-as. Estamos a sós. Aí já são cinco, e meia, e seis, e já escureceu. Não convidamos palavras, mas eu falo sozinho. Não convidamos a noite, mas as estrelas nos espiam pelas frestas da persiana mal fechada. Não convidamos a luz e permanecemos no escuro. Não convidamos a garota: ela chora no andar de cima. Ou no quarto ao lado, não sei bem... Lembranças se exaltam em cada verso da música do rádio... Mas neste momento já não há estações musicais e, bem, não há do que se lembrar. Por que a loucura é íntima e temos um pacto: Presente perpétuo. Mas pobre de mim que numa distração qualquer pus-me a desenhá-la.

Sonhos

Logo eu que vivo com a cabeça tão alta, nas nuvens, tenho estes pés tão firmes no chão.