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Mostrando postagens de dezembro, 2013

Costelas IV

Sereno severo silêncio Alento à alma Saúdo à calma e me sento Sagrado sortimento Qual amálgama! Prefiro aos tons pasteis Romances em papéis Capa dura, coração mole Emoções são montanhas russas Relacionamentos são carrosséis Sou um parque de diversões fechado Em um porquê de dimensões extensas Cordas tensas, coração calado Desfruto meu manjar, alheia aos pecados, Faço jus à minha crença Sou esfinge e sou quimera Sou Bela e Fera sem bula Adula & Venera: "Decifra-me ou devoro-te!" Eis a GULA.

O Décimo Terceiro Ovo

De repente aquela súbita vontade de comer omelete. Dez horas da manhã e eu nunca gostei dos americanos, mas hoje é um dia à parte. E quando abro a geladeira para pegar os ovos noto a bizarrice: um deles brilha. Nada muito chamativo ou fosforescente, mas era um ovo nitidamente diferente dos demais, um pecado. Pego o ovo com cautela pensando poder estar podre, e qual a minha surpresa também com seu peso estranho. Que ovo pesado! E apesar de tudo, não tinha qualquer cheiro diferente dos outros. Fico pensando se ele não é de outra granja, se a Paula, minha esposa, não quis fazer uma gracinha e comprou alguns produtos mais finos para alguma receita especial ou algo do tipo. Descarto a hipótese, é a Dona Júlia, nossa secretária, quem vem fazendo as compras alimentícias e ela não gosta de coisas caras, quem dirá ovo chique. - Alô, Dona Júlia? - Ô Seu Luiz! Tava mesmo pensando no senhor. O trânsito agarrou aqui, ônibus cheio, mas eu já tô chegando, viu? - Sem problemas. Mas me co

O mar não recusa o rio

Entrego-me às ruas da cidade sob o Sol da manhã. A brisa leve conduz meu velejar em meio a outros navios, distraídos, mas não com a paisagem. Não digo que perdem o melhor, pois não sei deles. Aliás, não digo nada, nem mesmo o que acho que sei por que também acho que não vem ao caso. Nada é preciso, exceto navegar. O vento da manhã não uiva, ele sussurra doce e suave, mas a maré brava ofusca seus dizeres com movimentos bruscos. O mar não está para peixe, quem dirá para banhistas. Deixo o timão solto, livre de minhas mãos. Quem é o capitão perante a condução dos ventos? Aprecio o velejo sereno. As crianças são meus cúmplices, elas navegam melhor do que seus acompanhantes, com um sorriso no rosto que me diz já terem voltado de meu destino com o tesouro que busco. Seu cumprimento silencioso é um presságio, a benção que dispensam àqueles de alma grande. Aos demais, sua indiferença típica, que dói estranhamente. Já me doeu, não mais. Retribuo um sorriso que é apenas um ensaio, e

Alforria

Segue teu caminho Soprou-me o anjo da encruzilhada Que não me revelou mais nada E fez-me saber sozinho Eis o livre arbítrio manifesto! Fatalidade é o que acontece Fidelidade à minha prece De sobra o resto Mas trai-se em tais excessos Pois que suscita o incerto Quando sucede, de perto, Apenas a vida e teus processos Explico em meios-termos: Há o justo e o incompleto, Há Deus além do feto, São caminhos um tanto ermos...