O mar não recusa o rio

Entrego-me às ruas da cidade sob o Sol da manhã.
A brisa leve conduz meu velejar em meio a outros navios, distraídos, mas não com a paisagem. Não digo que perdem o melhor, pois não sei deles. Aliás, não digo nada, nem mesmo o que acho que sei por que também acho que não vem ao caso. Nada é preciso, exceto navegar.
O vento da manhã não uiva, ele sussurra doce e suave, mas a maré brava ofusca seus dizeres com movimentos bruscos. O mar não está para peixe, quem dirá para banhistas.
Deixo o timão solto, livre de minhas mãos. Quem é o capitão perante a condução dos ventos?
Aprecio o velejo sereno. As crianças são meus cúmplices, elas navegam melhor do que seus acompanhantes, com um sorriso no rosto que me diz já terem voltado de meu destino com o tesouro que busco. Seu cumprimento silencioso é um presságio, a benção que dispensam àqueles de alma grande. Aos demais, sua indiferença típica, que dói estranhamente.
Já me doeu, não mais.
Retribuo um sorriso que é apenas um ensaio, elas sabem. É bom que se ensaie sorrisos para que a face se acostume com o que é leve, eis o mapa com o X que se estampa descarado.
Só se desfaz de máscaras aquele que encarna dores e delícias sem distinções de personalidades. Os pequenos mestres gargalham com a busca da naturalidade, me satisfazem com sua aprovação sutil e depois se despedem sem muita cerimônia, deixam que eu conduza meu barco com a certeza de que estou na direção certa.
O oceano é gigante e não me importa cruzá-lo, apenas navegar com a certeza da proximidade. Pressinto os bons ventos. Capitão é aquele que sabe conduzir com maestria seu navio sem brusquidão.

Até o fim da manhã já colhi sorrisos para encher meu baú.

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