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Mostrando postagens de dezembro, 2012

Véspera

Você sorri. Diz que o ano que vem vai ser bonito. Diz que vai ser bonito como o meu sorriso, e eu nem estou sorrindo. Diz que belas palavras selam compromissos e que você pode lê-las em meus lábios, mas eu estou calado. Diz que meus olhos te encantam, e eu os mantenho cerrados. Estamos nus, deitados numa cama, deliciando o escuro, e eu estou refletindo: ou se intimida ou se intimida. O escuro é assim: diante dele, ou estreitamos laços num ímpeto decisivo que nos põe à parte de quem somos, e aí há intimidade; ou os afrouxamos e nos esgueiramos por paredes, encurralados pela fatalidade que criamos no outro, e aí a timidez. Eu, que levo metas a sério, já não me encosto em canto algum. Mas ai de mim que prometi ser mais paciente, quando disfarçava minha intolerância de introspecção. E eis que me disponho a compartilhar-me, ainda que inseguro destas decisões abruptas que me são  cobradas pelo reflexo de minh’alma. E nem preciso de luz para encantar-me com sua silhu

Iniciação Lógica ao Nonsense

  ou Convergência de Paradoxos Dizem que só se pode ser ofendido se nos permitirmos sê-lo. Pois a discórdia que nos é oferecida, descascada qualquer ofensa e o possível intuito de insulto, é um presente dos deuses. Quando toda afirmativa é plural¹ e o racional nos impõe a lógica, a discórdia que nos faz entrar em conflito e superar as explicações automáticas é uma libertação e tem finalidade mediúnica, ao passo que nos faz enxergar outras possibilidades. Se todos os caminhos levam ao mesmo lugar e apenas “o caminho do excesso leva ao palácio da sabedoria”², que nos embebamos de causas e com efeito nos transcenderemos. Pois proponho a discórdia, em todas as suas concepções! E uma longa noite ao lado de Eris! Brindemos? ___ ¹ “Todas afirmações são verdadeiras em algum sentido, falsas em outro sentido, sem sentido em alguns sentidos, verdadeiro e falso em outros sentidos, falsas e absurdas em outros sentidos e verdadeiras e falsas e absurdas em alguns sentidos.” –  

Minha Teia De Inscrições

Minha Teia De Inscrições Desde que eu era apenas um garoto minha mãe já acompanhava meus estudos impondo-me disciplina e cobrando-me ser ao menos semelhante à ela: uma verdadeira caxias. Eu nunca levei muito jeito para fazer o que não queria e confesso que nessa idade me era muito mais interessante sentir o mundo comportando-se diante de mim do que imergir-me em papéis e estudar o que a escola me propunha. É dessa época singular que provém os relatos e reflexões aqui contidos. As redações da escola eram algo que me exigiam um certo esforço. Eu não sabia lidar com aquele tanto de regras de pontuações, apesar de ter me submetido bem aos tratos pavlovianos da ortografia e desde aqueles tempos já não errava uma palavra sequer. Quando sobravam-me respostas e parágrafos para serem elaborados em casa o fardo acompanhava-me e eu sentia-me na obrigação de desdobrar-me no idioma para conseguir uma tarefa satisfatória. Até então tudo bem. O problema era realmente a redação. Minha mãe

Do Criador

e quando me vieram vender poesia na rua dispensei-as, mas não por descaso: o poeta é auto-suficiente em suas histórias.