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Mostrando postagens de março, 2014
"Acho que estou ficando chato", disse ao espelho o homem recém-iluminado.

Orvalhada

- Mestre, há uma questão que anda me inquietando... - Isso é bom, menino. - É, e eu acho que o senhor poderia me auxiliar... - O que lhe perturba? - Os outros. - Bem, isso não é bom... - Não, espera, deixe-me explicar... A forma como os outros conduzem a vida deles me angustia. - Isso também não é bom. - Não, Mestre, é o seguinte, eu sinto que as pessoas são descartáveis, sabe? - Não...  - É que, sei lá, eu sofro com a futilidade, a superficialidade, o desinteresse de todos. O mundo anda sendo insuficiente para mim e há um vazio no meu íntimo, um vazio crescente. - Meu filho, escuta, você é suficiente? - Como assim, Mestre? - Filho, se há um vazio no seu íntimo é por que você é insuficiente para si próprio. Como poderiam outras pessoas preencherem o vazio que é seu? - Mas meu vazio é involuntário. - Isso é uma crença sua. E deixe-me lhe contar algo: se a gente alimenta muito nossas crenças, passamos a chama-las “fatos”, e então “verdades” e, depois, fica perigoso. -

Costelas VII

Estática à janela: Passarela de ilusões Toda rua tem sua lua, bela E eu nua, em contemplações singelas Caso-me com a paisagem Sou oásis, sou miragem Sou ponto de encontro de olhares Desavença entre os pares Massagem ao ego Visto-me de cortina Quando muito, véus Sete céus acima e um punhado de estrelas para deleitar os olhos mas, justo eu, menina. Extática à janela, emolduro-me Não me exibo, mas não me caibo Caio em tentação, mordo a maçã, aumento o ritmo Retrato íntimo: Prazer, Luxúria.

Feromônio

Repara como reparo detalhes, retalhos, emendas que faço ao pé do ouvido, decretos discretos, secretos aos ímpios costuro-te com os olhos da curiosidade ingênua à malícia fictícia que conjuro ao ideal, feito massa ao dente, carne ao ponto, nós à provençal e pronto.