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Mostrando postagens de abril, 2013

Vulgar

 “[...] a experiência visionária é algo que transcende as palavras e deve ser evocada por percepção direta, sem estágios intermediários [...]” Portas da Percepção – Aldous Huxkley Muito já foi dito a respeito de que os dizeres não chegam ao muito. Palavras nunca são suficientes e diz-se demais querendo se dizer menos. O estado de síntese ao qual nos condicionamos, vivendo de representações e símbolos que imaginamos resumir nossa experiência é incompetente nas traduções de nossas situações cotidianas. Mas mesmo essa percepção não é inédita e a própria contradição já está instaurada estruturalmente em nosso padrão comportamental. Digo isso para chegar às palavras importadas e aos conceitos que perdem seus sentidos quando tornam-se sintéticos – de tão sintetizados para serem transmitidos exotericamente . Quando se especula de que existem conhecimentos presos e que não são todos que têm acesso a eles eu entendo como uma inferência à possibilidade de não possuirmos tudo o qu

Achado

Eu só tinha alguns trocados no bolso e a vontade de levar-lhe alguma coisa. Quando roubei aquela rosa, pensei que cometia o maior pecado do mundo. Roubava-a da  praça para levá-la comigo ao meu amor. E me quedei a pensar que longe dos olhares do público ela encantaria somente à minha garota e que talvez este fosse um ato de egoísmo exacerbado e que fosse uma pena que os demais não pudessem vê-la depois de meu crime. Mas pensei também que estes não poderiam ver o seu sorriso e a sua surpresa, tão mais sinceros do que os olhares dos passantes, que talvez nem notassem a solitária rosa, distraídos que são em suas caminhadas pela praça. Então indaguei-me o por que de aquela rosa ter sido plantada ali. As flores cumprem seu papel estético? Tornaram-se meros elementos decorativos? E alguém chegou a pensar na função poética da rosa? Pois quando um amigo sugeriu-me este ser o ato mais romântico que ele podia pensar, soube que a dor da privação coletiva é a concepção da poesia. E qua

Transição

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Vão se os Peixes, fica-se o Aquário.

Opaco

O vidro da janela está extremamente sujo, mas ele só se dá conta disso quando interrompe seus pensamentos, olhando além do que há para ser visto em busca de inspiração. O horizonte turvo, mas pela névoa que impede o tato de seus olhos. Não há muito para ser visto ali, mas a sensação de poder ter contato com o exterior é o suficiente para que ele elabore suas ideias em seu cubículo cotidiano. Ele não reclama da vida. Exceto quando não encontra ideias. Ele vive de ideias e precisa comercializá-las para continuar o seu trabalho, então ele acha chato quando se depara com essa situação de abstração, mas é apenas pelo fato de perder um pouco de seu tempo tentando reconstituir um estado de espírito que ele chama vulgarmente de criatividade . Ele não é criativo de fato. E ele também não se sente mal por sua inação que marca os ápices de sua vida. Ele nem liga de referir-se à sua vida no singular, sendo constante demais em tudo para poder vivenciar outros túneis de realidade. Resume-se