Achado
Eu só tinha alguns trocados no bolso e a vontade de
levar-lhe alguma coisa.
Quando roubei aquela rosa, pensei que cometia o maior pecado
do mundo. Roubava-a da praça para levá-la comigo ao meu amor. E me quedei a
pensar que longe dos olhares do público ela encantaria somente à minha garota e
que talvez este fosse um ato de egoísmo exacerbado e que fosse uma pena que os
demais não pudessem vê-la depois de meu crime.
Mas pensei também que estes não poderiam ver o seu
sorriso e a sua surpresa, tão mais sinceros do que os olhares dos passantes,
que talvez nem notassem a solitária rosa, distraídos que são em suas caminhadas
pela praça.
Então indaguei-me o por que de aquela rosa ter sido plantada
ali. As flores cumprem seu papel estético? Tornaram-se meros elementos
decorativos? E alguém chegou a pensar na função poética da rosa? Pois quando um
amigo sugeriu-me este ser o ato mais romântico que ele podia pensar, soube que
a dor da privação coletiva é a concepção da poesia.
E qual ápice mais lisonjeiro para a afanada rosa? Ainda que
pertencesse agora àquelas mãos desajeitas, seu desfile era certeiro pelas ruas
da cidade. Seja no ponto de ônibus ou na avenida principal até a casa da mulher
que a receberia com estima, agora a rosa cumpria seu papel poético.
Genial, deu a rosa uma razão de ter sido plantada! ;D
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