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Mostrando postagens de agosto, 2009

Reencontro

“Amas-me?” “É assim que o nosso diálogo se inicia?” “Eu não vi outra forma de abordar-te...” “A sutileza é sempre bem vinda...” “Mas rodeios não são. E penso ser uma questão urgente, impreterível.” “E tudo se trata de perguntas e respostas? Vais corrigir-me quando eu pronunciar minha sentença?” “Não vim aplicar-te formulários. Se soubesse que te encontraria, no mínimo teria me arrumado antes. O que coloco como questão é de fato um dilema e penso que sua solução é imprescindível para o início de nossa conversa de forma coerente, e não como ela tem se arrastado até então.” “Então tu esperas uma permissão para começar um diálogo formal? Encaras-me por quase dois minutos e quando decides dizer-me algo atropelas-me o pensamento e esperas que eu levante ileso a desatar nós e confeccionar laços?” “Queres ajuda para recompor-te? Me parece que o marinheiro tomou um caldo.” “É que as ondas andam meio abruptas. Talvez eu estivesse em meio à calmaria e substimei a tempestade.”

Nocivo

Siga as pedras que deixo pelo caminho. E se por ventura se acabarem, há as pegadas. Trilha marcada por um homem sozinho. Cravada no asfalto das estradas. Deixo as pistas, dicas, os suspiros... Provoco-te! Incito uma perseguição. E, cauteloso, à frente me atiro. Medindo passos e escolhendo a direção. Siga as pedras, querida, eu lhe imploro! E dessa fuga já perdi o motivo. Mas se me recomponho, logo coro: Faço-te perseguir esse meu amor nocivo.

Futuro

O pior de assistir a vida re-acontecer e só lembrar-se de alguns segundos após cada ação é a ansiedade de tentar evitar os erros que estão por vir e pensar na possibilidade de acabar piorando tudo. É carregar o fardo de viver. De ser responsável pelo acontecido e pelo não-acontecido. É viver se surpreendendo com o rumo que as coisas tomam, mas, ao mesmo tempo, seguindo frustrado por descobrir que você já sabia o fim de cada história. É te ter como insano por agir tão normalmente, sempre! É querer fugir de si próprio e nunca poder se perder por aí. É ser amaldiçoado como Deus de si próprio sem ter capacidade para administrar-se. Mas a dúvida persiste: futuro?

Tédio

Eu vejo essas pessoas que carecem de atenção. Elas me cercam e me pedem um momento para satisfazerem sua necessidade de fuga: nenhuma delas consegue se suportar. Elas precisam de algum barulho para preencher o vazio que seria ocupado pelo peso de sua consciência; imploram por minha voz, pois não conseguem ficar sozinhas consigo próprias, não conhecem sua companhia e são tímidas para se aproximar, então vivem em tédio. O tédio nada mais é do que a falta de capacidade de se distrair consigo próprio, enfim, é a prova de que você se reconhece insuportável. A partir disso eu te desafio a me provar que estarei melhor em sua companhia do que comigo mesmo, afinal, demora-se muito tempo para perceber que a solidão há de ser conquistada com cautela e não é qualquer idiota que pode roubá-la de mim e desperdiçá-la com um espaço a ser ocupado por um corpo vazio e meu silêncio quebrado por palavras preenchidas de frustração.