Reencontro
“Amas-me?”
“É assim que
o nosso diálogo se inicia?”
“Eu não vi
outra forma de abordar-te...”
“A sutileza é
sempre bem vinda...”
“Mas rodeios
não são. E penso ser uma questão urgente, impreterível.”
“E tudo se
trata de perguntas e respostas? Vais corrigir-me quando eu pronunciar minha
sentença?”
“Não vim
aplicar-te formulários. Se soubesse que te encontraria, no mínimo teria me
arrumado antes. O que coloco como questão é de fato um dilema e penso que sua
solução é imprescindível para o início de nossa conversa de forma coerente, e
não como ela tem se arrastado até então.”
“Então tu
esperas uma permissão para começar um diálogo formal? Encaras-me por quase dois
minutos e quando decides dizer-me algo atropelas-me o pensamento e esperas que
eu levante ileso a desatar nós e confeccionar laços?”
“Queres ajuda
para recompor-te? Me parece que o marinheiro tomou um caldo.”
“É que as
ondas andam meio abruptas. Talvez eu estivesse em meio à calmaria e substimei a
tempestade.”
“Talvez seja
essa a palavra: subestimar. Não achas que tratas alguns assuntos com demasiada
trivialidade?”
“Não achas
que preocupas-te demais com as coisas?”
“Acho. Acho
que planejo demais, que crio muitas expectativas e acho que nunca saberei lidar
com essa tua indiferença.”
“Acho que tu
fazes tempestades em copo d’água.”
“E te afogas
em meus mimos.”
“Certamente
por que nado em ti.”
“Nada.”
“É ridículo
que me perguntes uma coisa dessas! A tensão
é explícita, minha resposta não precisa ser.”
“Precisa! Quero
ouvir tuas palavras! De sinais, signos, indiretas eu estou farta. De olhares
demorados e silêncio que não solucionam tuas aparições; dos arrepios que
percorrem o meu corpo ao mencionarem o teu nome, ainda que seja apenas
coincidências; a incerteza que é insone me basta, não me serve, não adianta.”
“E eu poderia
esquivar-me de ti? Ainda que eu confesse a aflição de ter imaginado este
encontro tantas vezes, e talvez tenhamos adiado-o demais evitando lugares e
pessoas em comum, era-nos inevitável que as coisas se resolvessem de uma forma
inesperada.”
“E até agora
dissemos apenas verdades, mas novidade alguma. Que eu te amo, que tu me amas,
disso tudo já sabemos. Quero saber se me amas.
E não tome-me como prolixa, repetitiva, ou como um pleonasmo.”
“Ao responder
cunho promessas? Qual o infortúnio de esculpir o próprio destino? E quão
prepotente é o homem ao falar de livre arbítrio? E quem sou este que falo
através de mim agora, selando vidas que nunca estiveram dissolvidas e
proferindo profecias que já estão concluídas?”
“Com “apenas duas mãos e todo o sentimento do
mundo”¹, o fardo há de se equilibrar.”
“É com poesia
que se encerram as maiores conversas, ainda que sem ritmo, rimas, ou mesmo
palavras.”
“Teus lábios
doces não poderiam concluir melhor.”
“Amo.”
_
¹Citação de Carlos Drummond de Andrade.
_
¹Citação de Carlos Drummond de Andrade.
Então a beleza do sutil sai em transpiros...
ResponderExcluirBeleza poética...
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirFicou muito lindo. Mesmo.
ResponderExcluirCara, fantástico!
ResponderExcluirINCRÍVEL.
ResponderExcluirDevo me desculpar por ter atualizado o texto?
ResponderExcluirNão sei. mas me parece tão mais convincente.