Vulgar
“[...] a experiência visionária é algo que
transcende as palavras e deve ser evocada por percepção direta, sem estágios
intermediários [...]”
Portas da Percepção – Aldous Huxkley
Muito já foi dito a respeito
de que os dizeres não chegam ao muito. Palavras nunca são suficientes e diz-se
demais querendo se dizer menos.
O estado de síntese ao qual
nos condicionamos, vivendo de representações e símbolos que imaginamos resumir
nossa experiência é incompetente nas traduções de nossas situações cotidianas.
Mas mesmo essa percepção não é inédita e a própria contradição já está
instaurada estruturalmente em nosso padrão comportamental.
Digo isso para chegar às
palavras importadas e aos conceitos que perdem seus sentidos quando tornam-se
sintéticos – de tão sintetizados para serem transmitidos exotericamente.
Quando se especula de que
existem conhecimentos presos e que não são todos que têm acesso a eles eu
entendo como uma inferência à possibilidade de não possuirmos tudo o que
necessitamos no exato presente, e disso eu discordo veementemente. Acredito em
um conhecimento livre, ao alcance de todos por meio da confecção de pontes
individuais, ou seja, uma auto capacitação. Não acredito, no entanto, em pontes
coletivas que possam abranger aos leigos de forma definitiva, principalmente
por pensar que essa relação viola a lei de troca da natureza, em que o
atravessador faz um esforço solitário para um suposto resultado comum. Mesmo
Caronte era afeiçoado ao ouro.
Somos levados à
problematização peculiar que é os termos entrarem em moda, mas sua significação
original permanecer obscura sendo
substituída por um conceito mais palpável às massas, como é o caso do desapego que se tornou sinônimo de
libertinagem – ou algo parecido...
Mas não me alongarei nessa
questão por dois motivos: o primeiro, a ineficácia das palavras; o segundo, meu
desapego. Afinal, ando em comunhão comigo e não com as palavras das bocas dos
outros.
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