Minha Teia De Inscrições
Minha Teia De Inscrições
Desde que eu
era apenas um garoto minha mãe já acompanhava meus estudos impondo-me
disciplina e cobrando-me ser ao menos semelhante à ela: uma verdadeira caxias. Eu
nunca levei muito jeito para fazer o que não queria e confesso que nessa idade
me era muito mais interessante sentir o mundo comportando-se diante de mim do
que imergir-me em papéis e estudar o que a escola me propunha. É dessa época
singular que provém os relatos e reflexões aqui contidos.
As redações
da escola eram algo que me exigiam um certo esforço. Eu não sabia lidar com
aquele tanto de regras de pontuações, apesar de ter me submetido bem aos tratos
pavlovianos da ortografia e desde aqueles tempos já não errava uma palavra
sequer. Quando sobravam-me respostas e parágrafos para serem elaborados em casa
o fardo acompanhava-me e eu sentia-me na obrigação de desdobrar-me no idioma
para conseguir uma tarefa satisfatória.
Até então
tudo bem. O problema era realmente a redação. Minha mãe sempre insistiu comigo
que se deve ter todo o texto planejado antes de se colocar a primeira palavra
no papel. Eu não conseguia compreender o que era ter início, meio e fim já
prontos sem que eu nem tivesse alcançado a minha linha de raciocínio.
O leitor pode
considerar-me uma pessoa um tanto preguiçosa, desorganizada, ou até mesmo
confiante demais por deixar-me desenrolar a história na medida em que ela vai
acontecendo. Engana-se portanto: sou demasiado metódico e muito me agrada
remoer-me em pensamentos buscando soluções para manutenção de algo antes de
empenhar-me a realizar meu achado. O que acontece exclusivamente com a produção
textual é que eu não consigo conceber esboços e acho-os muito sistemáticos.
Quando eu
começo a escrever um texto eu busco uma linha de raciocínio que está a se
desenvolver e sigo pelo ritmo dela. Às vezes a perco, é claro, então deleto
parágrafos inteiros, até mesmo páginas... mas relendo o que escrevi eu a
reencontro e prossigo na harmonia que ela dita. Este método confere-me um tom
que poderia não existir em um texto que foi acomodado da forma como pôde por
uma cabeça que quis impor sua vontade às palavras. Eu sinto que as palavras
estão mais vivas e interagem como um todo, e não mecanizadas como me parece o
outro processo proposto por minha ancestral.
De fato
descobri que há muitas pessoas geniais que escrevem da forma como ela quis me
ensinar e, afinal, ela lecionou o presente idioma por muitos anos da vida dela
e foi considerada uma excelente profissional, sendo assim, acredito em sua
didática. O que vim a verificar é que a forma como eu concebo a produção literária
é uma das formas de desenvolver o pensamento rediático, enquanto que o
planejamento peca pelo excesso de linearidade. Explico: o pensamento “em rede”
é uma metáfora atual para a alinearidade presente que permeia-nos sem que
possamos compreendê-la plenamente devido ao nosso cárcere perceptivo.
O que busco
dizer é que quanto à produção de textos não há uma forma correta para
composição, porém a livre-expressão – e aqui refiro-me às amarras do
perfeccionismo – é espontânea e é isso que faz com que as palavras concordem
entre si nos diversos meios em que se apresentam. O texto, que é apenas mais
uma representação de uma realidade, deve ilustrá-la fidedignamente pois
COEXISTE com sua inspiração. Da mesma forma, o autor ainda partilha desta mesma
realidade em que está presente a sua obra e a sua percepção das coisas, então o
mais leal seria trabalhar-se a fim de aproximar-se do mundo como ele realmente
é.
Escrever,
portanto, é responsabilizar-se por si. Mãe, eu me garanto.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirHAHAHAHAHAHAHA demais esse final
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