Divergência
“As guerras, as fomes,
as discussões dentro dos edifícios provam apenas que a vida prossegue e que nem
todos se libertaram ainda”
Carlos
Drummond de Andrade
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O vento bateu tão forte que carregou consigo
a iluminação. O suporte da vela jazia no chão ao lado da rolha ainda úmida pelo
doce veneno rubro.
Nesta cena fora de foco as longas cadeiras
ostentavam dois lugares vagos. As estrelas da noite haviam fugido e o abandono
se fazia ainda mais gritante quando a lua, solitária, era feita de holofote. E
o feixe de luz, perdido na escuridão, vagava pelos labirintos que eram estes
motivos insensatos.
As taças largadas pela metade, num
desperdício penoso. Os talheres, intactos, faziam-se sem sentido. As palavras,
tão ensaiadas, nunca chegaram aos ouvidos, e uma hora a música cessaria.
Todo aquele cuidado com as escolhas
provava-se inútil: as faixas chegam ao fim.
E, no silêncio, o vento uiva ardorosamente
pelas frestas da janela, triunfante sobre a chama extinta.
Agora tudo é frio..
A vida apenas, sem misticismo.
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