- Mestre, há uma questão que anda me inquietando... - Isso é bom, menino. - É, e eu acho que o senhor poderia me auxiliar... - O que lhe perturba? - Os outros. - Bem, isso não é bom... - Não, espera, deixe-me explicar... A forma como os outros conduzem a vida deles me angustia. - Isso também não é bom. - Não, Mestre, é o seguinte, eu sinto que as pessoas são descartáveis, sabe? - Não... - É que, sei lá, eu sofro com a futilidade, a superficialidade, o desinteresse de todos. O mundo anda sendo insuficiente para mim e há um vazio no meu íntimo, um vazio crescente. - Meu filho, escuta, você é suficiente? - Como assim, Mestre? - Filho, se há um vazio no seu íntimo é por que você é insuficiente para si próprio. Como poderiam outras pessoas preencherem o vazio que é seu? - Mas meu vazio é involuntário. - Isso é uma crença sua. E deixe-me lhe contar algo: se a gente alimenta muito nossas crenças, passamos a chama-las “fatos”, e então “verdades” e, depois, fica perigoso. -