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Mostrando postagens de 2017

O Teatro do Informe e a Salvaguarda do Cinismo

Viu-me e mudou de assunto. Emudeceu-se, ou quase isso. Antes, porém, me maldisse – mas pelas costas que é como fazem os algozes. Eu que nada sabia, e que mesmo que isto alegasse, já era mal visto: são os olhos quem julgam, o julgamento já é o prenúncio da pena, mesmo que o réu seja algo de inocente. Nunca se passa incólume por um júri. Saber demais pode ser um estorvo. É sobre essa premissa que se constrói a relação entre o Conhecimento e o Abismo: a multiplicidade das interpretações seduz o ávido à ilusão. É a oportunidade que a dualidade oferece que acaba por confundir o incauto. E somos incautos todas as vezes que atribuímos feitos às sombras, acaba-se por projetar demais. Mas o teatro do informe tudo aceita. Aliás, o ator consagrado é capaz de entregar o que quiser para a plateia, mesmo sob delírios alucinados. Eu, entretanto, sempre preferi o cinismo a me defender abertamente, sobretudo por que estes palcos e espetáculos não costumam comportar a discrição, sendo muitas vezes

Degeneração

Servir a falsos mestres acaba por nos fazer falsos discípulos.

Das referências necessárias

  Quando o discípulo está pronto o Mestre despe a máscara.

Excede!

O que define o mau perdedor é o apego. Quando a vitória justifica qualquer meio, a derrota é simplesmente inaceitável. O problema da não-aceitação, no entanto, é que a vida é ilimitada e toda vez que a contornamos ela excede os limites e nos mostra sua exuberância.  É isso que o mau-perdedor não enxerga.

A Virtude do Êxtase

  Tomar o extraordinário como corriqueiro nos faz mais cinzas. 

Vaivém

A fé remove montanhas, A má-vontade as move de volta.

Da "explicitude" das exigências

Não se pode alcançar uma meta invisível. Ao delimitarmos tornamos o sutil mais palpável. 

Concordia

Como podes discordar de mim, se concordo contigo em absoluto?!

Desacerto

As pessoas falham conosco, nós falhamos com as pessoas. Tudo bem, ainda somos humanos. Tudo se acerta.

Nota sobre a Desordem

Não há nada que esteja fora de seu lugar e não há um ser que não possua um código próprio para lidar com seus símbolos. A desordem é o limite da compreensão de um ante a multiplicidade de linguagem dos outros. 

Anseios

Não queira que as pessoas notem a sua importância na sua ausência. Isso não te faz importante, te faz um quebra-galho.

Auto-Imagem Sombreada

Às vezes, de uma forma muito curiosa, a gente conhece uma pessoa igualzinha a nós: ainda que não seja nosso sósia e não se pareça em nada em absoluto, observamos os mesmos hábitos, o mesmo jeito de falar, uma postura perante ao mundo muito semelhante à nossa, à quem nós somos. Eu desconfio que isso se passa, eventualmente, com todos nós, embora nem sempre sejamos capazes de notar tais reflexos ou associá-los.  O que eu acho o mais curioso, no entanto, é que a nossa capacidade de julgar se altera drasticamente: ao nos darmos conta da oportunidade de confrontarmo-nos percebemos quanta admiração e quanto desprezo nutrimos por nós mesmos. Esses momentos de pequenos embates ideários são decisivos para que percebamos a forma como nos comportamos e, às vezes, até a forma como negamos e persistimos em um ceticismo quanto às características que não queremos nos enxergar. Tais estranhos, tão familiares, passam em nossas vidas como um susto, um pequeno cisma em nossa compreensão da realidade. M

Devoto de Mim

Comprometer-se consigo mesmo é assumir-se por inteiro. A dedicação não vem por partes, não existe a segregação do sagrado: tudo o É, e este é o ideal da percepção, a laboriosa obra do espírito. A percepção é uma pedra bruta a ser burilada, e conforme ela toma forma, o mundo se revela como o É de fato.

O Tino Mágico

  As vezes a ignorância assume tais proporções que se torna indelicada. 

Tetragrammaton

Quem menos tempo tem menos tempo tem. A insatisfação é viciosa. Sobriedade é atenção plena: onde está sua consciência  neste exato instante?  Qualquer hipótese é embriaguez. O pensamento é um delírio, no máximo acerca-se de reflexos... A resposta é desimportante, o relevante é a firmeza da fala tal como o tom de um Mestre Zen. Leva-se tempo para se ter tempo Eis a obra da percepção. - há mais entrelinhas do que linhas. É o não-dito a morada da Essência (                                                          ) Assim, não a palavra, mas o som.

Prioridades

Os avôs levam as crianças à escola Nesse mundo de pais sem tempo Estes são os ecos da eternidade.

O tempo como desculpa universal

- Como andam os escritos? - Ando meio sem tempo... - Sem tempo? É uma daquelas desculpas universais, não é? - É... - Eu fico pensando quando exatamente passamos a nos deixar controlar pelo relógio. - Acho que foi no momento em que convimos que uma jornada de trabalho deveria ter um tempo mínimo. Desde então se tornaram preciosas as horas restantes... - Preciosas não, que nem as percebemos. Mas as tratamos como se fossem para não nos obrigar a nada que nos exija esforço. - É uma boa desculpa, não é? - O quê? - O tempo. - Ah sim. E é incrível que seja tão convincente... - Afinal quem tem tempo? - Mas me diga: por que você parou de escrever? - Não é que eu tenha parado, eu apenas diminuí o ritmo. - Por quê? - Eu me disse que era porque eu vinha mantendo um diário regularmente e por lá eu transbordava sem lirismos... a verdade é que eu andei meio displicente comigo mesmo. Quer dizer, eu sinto falta destes bancos, das conversas, do ambiente... - Você é sempre bem vindo. -

O Sábio Apazigua o Jardim

Penso tanto que tenciono-me alongo-me em reticências que nunca se tornam palavras mesclam e embrulham-se mudas fazendo este embaraço que aqui  escarro: *! Ai,  que se eu tivesse a minha idade o meu talento, a minha sabedoria, eu não me preocupava tanto aliás, eu não me preocuparia com nada absolutamente. Se eu tivesse visto o que eu vi vivido o que vivi, enfim,  nem aqui cabe. A tolice dos jovens é um direito caro, porém inalienável. Portanto fica assim,  só esse conselho: tudo é perfeito.

Cerimônia Rodrigo & Raquel

Faze o que Tu Queres Há de ser o Todo da Lei O Amor é a Lei, Amor sob Vontade Amor este que é incondicional, ou seja, que não se condiciona, que não se define por meio das situações e por isso é constante. E sendo constante, transcende qualquer limite, por que É o que É, e não qualquer outra coisa. Amor, com letra maiúscula, abrange todos os seres, todas as situações, todas as experiências, já que sob sua ótica não há qualquer adversidade, não há oposição, não há inimizade, tudo está em comunhão! E ao Amor só cumpre sua natureza última: amar. Amar não é um desafio, é um privilégio! A capacidade de amar é inerente a todo e qualquer ser humano! E quando falamos de Amor, falamos do que é Vasto, do que transborda, da substância que é capaz de abranger a tudo, desde os mais simples ou complicados eventos do cotidiano até as cerimônias mais sublimes que nos despertam os sentidos e elevam o nosso espírito! Carlos Drummond de Andrade diz que "Amar se aprende Amando" e é incrív

Perceber é Apreciar

Acariciamos o mundo e mal nos damos conta. Mas quando damos, extasiamos.

Das Frustrações da Mulher Invejosa

A imaturidade anda de mãos dadas com a autocomiseração. O ser que mima a si mesmo é permissivo em sua ignorância. Assim, é insuportável a visão de seu reflexo torto: o mínimo vislumbre de sua frustração resulta na indisposição com o espelho! O injustiçado, sempre injustiçado, crucifica os outros em busca de legitimar sua lamúria. Mas quão extensa é sua sombra? Parece sempre vagar ao ocaso, pálido e trêmulo, receoso de encarar-se de frente e descobrir-se o quão pequeno. Mais vale que tenha mesmo pena de si.

Afluência

Ânsia, Assim, Azia.

Conto do Apego

Se o capitão permanecer ao leme Durante toda a viagem É certo que o navio naufrague.

O Grande Insight

A Grande Obra é um caminho estético cujo objetivo é o aprimoramento absoluto da percepção.

Abstração

Só se compreende o abstrato por desapego.

O Tamanho dos Detalhes

As pequenas delícias nos ensinam sobre o deleite, Os pequenos desastres nos ensinam sobre tolerância.

Horizontalidade

  Perder o olhar é diferente de ter o olhar perdido.

Indisponível

"Mas como eu saberei que você terá tempo para mim, se você não tem nem tempo para si?", respondeu a sábia donzela às investidas do falso altruísta. Touché, ela sabia mais das estações do que ele.

A Ignorância como Maldição

O verdadeiro mal dos iletrados é não poderem ser refutados.

Espelhado

Eu e ela, ela e eu   quase sinônimos, de perto diversos Todos meus versos e meus heterônimos  enamorados dos seus.

A Plástica do Costume

Irreprimível fluxo de criatividade! Tenho textos para mais de mês, para cumprir essa mesquinha aposta que fiz comigo e que não levo tão a sério assim, tendo visto a qualidade das últimas produções. Independente disso, finjo cumprir minhas responsabilidades e como Fernando Pessoa dizia, poeta que finge é poeta que sente, assim eu sinto muito. Às vezes penso que essa vida de escritor me mal-acostumaria, mas vejo que já o estou e escrevi muito pouco para tanto...

O contrate enfatiza o rude

O homem,  assim como o espelho, quanto mais polido melhor reflete a indelicadeza alheia.

Chave Teórica

A referência é a diferença entre a compreensão do sutil e a interpretação literal.

O brilho do Incognoscível

  Uma Estrela que reluz no horizonte  brilha de maneira incompreensível aos olhos da maioria dos homens. Mesmo assim, encantados, eles não deixam de a admirar.

Abóbada de Cristal

A Torre que traga o desnecessário  Perfura o véu da Noite Escura E profana o altar do conveniente.

Inflexão do Saber

As vias do Conhecimento geralmente conduzem a Pontos sem Retorno. ___________________________________ "Só de você saber que ele sabe o que ele não sabe que você sabe que ele sabe já mostra que o moço sabe bastante, não é? Pois confia na sabedoria do moço que vocês têm muito para trocar."

Provérbios da Desigualdade

  Julgar é dividir.  Só se faz justiça por referências. A vaidade é a raiz da parcialidade. Dois homens nunca chegam à mesma Verdade por palavras. Autoridade é revestimento de fragmentos de convenção.  A força convence. A burocracia é uma ferramenta de protelações providenciais. Toda reprimenda é uma catarse pessoal. A linguagem reprime a expressão. Nenhuma sentença abrange qualquer situação. Cada ponto tem sua pausa particular.  Mas isso é privilégio. Pois tudo é reticente. 

Perímetro Meticuloso

Não tome o impessoal por apático, sob pena de confundir  dissolução com receio.

Autoexistente

Autodomínio é a ciência da compreensão e reformulação das impressões que  os estímulos lhe provocam. Estímulos que podem ser internos ou externos; Impressões que se dão por ressonância, e só ressoa o que de alguma forma possui afinidade; provocações que por definição são sedutoras e convidativas. Autodomínio, portanto, é a capacidade de refrear reações, convertê-las em (não-)ações e  perceber todos os seus desdobramentos. O ser é a extensão de seus atos. De certa maneira somos responsáveis por toda e qualquer influência que produzimos, embora quase sempre sequer desconfiemos até onde vamos...

Inquisição Íntima

Há duas perguntas urgentes que precisam ser respondidas : A primeira é " quem é você? "  e a segunda é " quem você pensa que é? " O que é arbitrário é sempre mais fácil de se responder, porém não nos contenta.

Violentamente Só

As pessoas irritadas nos provocam para que compartilhemos de seu veneno. Parece que a raiva acentua sua solidão...

Comunhão em meio ao caos minúsculo

Calar é a quarta virtude porque resguardar a palavra significa gestar a oportunidade. O silêncio não omite, ele apenas não revela: é um reflexo de quem o observa e o eco de quem o contempla. Eis pois por que dizem que o calar é consentir: insensíveis! não enxergam além de si e em seu incômodo julgam o vazio... O lábio cerrado é o pleroma inefável. É da imprevisibilidade do cão que não ladra que o incauto busca respostas num oráculo vão. O silêncio é essa entrelinha inescrita num pretensioso destino que acreditam os lunáticos; é a sutil lacuna no convencional, a possibilidade pura que precede a linguagem. A seta retesada e pontual. O silêncio é de ouro, como dizem. E quem diz é de prata...

Das Posturas

Aos 16 anos de idade eu treinava artes marciais. O treino começava às 19:00 horas em ponto e se você chegasse atrasado você tinha que dar 50 voltas correndo em torno do tatame. Meu pai quem me levava, eu sempre chegava atrasado, o mestre sempre cobrava da gente essa disciplina , então duas vezes por semana eu corria e corria e corria, até cansar. O que estava em jogo não era a vaidade do mestre, a pontualidade para com a aula dele, mas sim o compromisso com aquilo pelo qual ele devia zelar. Aquela Arte era o sagrado, e como seu representante, a ele cabia o papel de nos cobrar essa percepção do mundo. O mestre sempre foi perfeito em sua postura. Hoje, aos 26, eu trabalho num templo. O horário é o mesmo, 19:00 horas em ponto, mas eu já não dependo de ninguém para me locomover. Independente de qualquer imprevisto, às 19:00 horas a mestra está na sala, no templo. Mas ela não quer saber se você chegou 18:00 ou 20:00, não há nenhuma cobrança, advertência ou punição, nenhuma palavra é profe

Tudo é pessoal

O sucesso ofende o escravo.

Torpor

De alguma forma nossas substâncias, práticas  e relações são propositalmente abusivas  para podermos sustentar nossa eterna síndrome de mártir.

Das Ferramentas da Alma

A intenção guia a Vontade. A intuição a orienta.

Das Serpentes que nos Conduzem por Florestas e das Noites Escuras da Alma

Esses dias sonhei com um irmão meu. Mas eu sou filho único e tenho esse péssimo hábito de levar palavras ao pé da letra, valores muito a sério e ser firme quando os outros não são. Síndrome de Saturno. Assim me fiz homem e se me explico demais é para ser um pouco menos sisudo do que meus atos parecem ser. Entretanto, poesia. E o coração dos poetas ama desmedido, quiçá seja essa a dor de mensurar. Bendito é o inefável e assim permanece Absoluto. E eu, mero mortal, contemplo o amor e rio das condições em que nos colocamos por insegurança e insensatez. A ignorância é mesmo a causa do sofrimento. Neste sonho uma naja conduz-me pela floresta por caminhos obscuros até uma clareira de onde surge este estupefato amigo, alegre por reencontrar-me e poder me abraçar. Eu, paralisado, sinto em seus braços o aperto da própria serpente, numa conciliação mais que repentina e que me sufoca, embora haja amor. Recíproco. Em desespero, só o que eu quero é fugir e só o que eu faço é chorar, como um men

Da Arte de Contar Sementes

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O Japamala surgiu na região da Índia, há quase 5 mil anos, mas alcançou rapidamente inúmeras escolas de conhecimento e tradições religiosas pelo mundo inteiro que o adaptaram conforme suas crenças. O termo Japa significa "murmurar, repetir" e Mala significa "cordão ou conta". Assim sendo, ao pé da letra Japamala seria "repetir em um colar de contas". Em outras palavras, uma espécie de oração em série, como são os mistérios do rosário cristão. A técnica de usar um japamala para se entoar mantras e orações repetitivamente permite que não se precise contar cada oração, inibindo assim a ação da mente racional. O afastamento do eu-analítico durante a oração permite que o praticante alcance com maior facilidade estados de consciência alterados que conduzem ao Êxtase e à iluminação progressiva.  Os mantras são fórmulas de libertação da mente ("man"=mente, "tra"=libertar) de condicionamentos, traumas e formas pensamento que limitam o