O tempo como desculpa universal
- Como andam os escritos?
- Ando meio sem tempo...
- Sem tempo? É uma daquelas desculpas universais, não é?
- É...
- Eu fico pensando quando exatamente passamos a nos deixar controlar pelo relógio.
- Acho que foi no momento em que convimos que uma jornada de trabalho deveria ter um tempo mínimo. Desde então se tornaram preciosas as horas restantes...
- Preciosas não, que nem as percebemos. Mas as tratamos como se fossem para não nos obrigar a nada que nos exija esforço.
- É uma boa desculpa, não é?
- O quê?
- O tempo.
- Ah sim. E é incrível que seja tão convincente...
- Afinal quem tem tempo?
- Mas me diga: por que você parou de escrever?
- Não é que eu tenha parado, eu apenas diminuí o ritmo.
- Por quê?
- Eu me disse que era porque eu vinha mantendo um diário regularmente e por lá eu transbordava sem lirismos... a verdade é que eu andei meio displicente comigo mesmo. Quer dizer, eu sinto falta destes bancos, das conversas, do ambiente...
- Você é sempre bem vindo.
- Eu me sinto como se fosse.
- Pois eu te espero aqui amanhã, ok?
- E se eu não conseguir?
- Eu vou te esperar.
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