Auto-Imagem Sombreada

Às vezes, de uma forma muito curiosa, a gente conhece uma pessoa igualzinha a nós: ainda que não seja nosso sósia e não se pareça em nada em absoluto, observamos os mesmos hábitos, o mesmo jeito de falar, uma postura perante ao mundo muito semelhante à nossa, à quem nós somos. Eu desconfio que isso se passa, eventualmente, com todos nós, embora nem sempre sejamos capazes de notar tais reflexos ou associá-los. 

O que eu acho o mais curioso, no entanto, é que a nossa capacidade de julgar se altera drasticamente: ao nos darmos conta da oportunidade de confrontarmo-nos percebemos quanta admiração e quanto desprezo nutrimos por nós mesmos. Esses momentos de pequenos embates ideários são decisivos para que percebamos a forma como nos comportamos e, às vezes, até a forma como negamos e persistimos em um ceticismo quanto às características que não queremos nos enxergar.

Tais estranhos, tão familiares, passam em nossas vidas como um susto, um pequeno cisma em nossa compreensão da realidade. Mas sua presença é tão impactante que acabam por formular uma memória que temos de nós mesmos: são as sombras que compõe a nossa auto-imagem e que se arrastam em nossos pensamentos quando somos pouco gentis e indelicados conosco. Sombras essas bem palpáveis e que delineiam muito nitidamente o Abismo entre o que acreditamos ser ideal e o que somos de fato ante todo este potencial.

Mas é importante ponderamos que a frustração conosco mesmo é fruto dela própria e se alastra indistintamente. Não há Prometeu que seja capaz de carregar qualquer fogo que seja sem estar inflamado por um ideal que, em essência, é ele mesmo. E ao nos incorporarmos de tudo aquilo que acreditamos ser essa essência, adquirimos uma espécie de auto-confiança inabalável, um orgulho sincero que espelhado e projetado nos demais nos produz admiração. Assim as sombras de nossa auto-imagem já não são mais sombras, ou ainda que sejam, já não nos perseguem. Damos conta de sermos quem somos e de nos enxergar num estranho. E podemos  compreender, por fim, que a relação com este estranho, que somos nós mesmos em última instância, é a nossa única oportunidade de manifestar aquele potencial que aparta o ideal do imediato. No fim das contas o mundo é mesmo um reflexo do que somos e o diabo que lhe pintamos é bem parecido com a gente...

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