Borrão
Foge do mundo. Mas volta arrependido, cabisbaixo e sem palavras de consolo. -Mas não trouxe nenhuma?! Não vistes tanta coisa?! E segue com as bochechas rosadas e com a voz lhe escapando. Segue por seguir porque não sabe aonde ir. Memória fraca. Talvez tudo gravado, mas, sendo assim, então, era péssimo em transpor! E transpirava cenas de filmes envelhecidos. Filmes mudos, música clássica! Ah! E suava a realidade para fora de si e fazia a multidão confundi-lo com uma ilusão. Provocava o público só de subir no palco! – trabalhava, para deleito geral, nas vinte quatro horas que tinha o dia e nos sete dias que tinha a semana. Afinal, era só uma atração. Uma atração à parte, mas não deixava de compor o espetáculo. E vivia a questionar a ironia de lágrimas escorrerem pela face de um palhaço. Devia parar: estava borrando a maquiagem.