Minha
Ela é minha. Toda ela, mas os cílios e as unhas que insistem em se descolar de seu corpo e se juntarem ao chão. Sem lei-de-três-segundos: a gravidade é ávida e egoísta, e eu também o sou. A minha posse é um desvairo. E ela é tão minha quanto qualquer outra. E que fossem todas! Que a vida fosse essa orgia que vivemos numa cegueira voluntária, entoando gritos de "amor livre" para justificar nossos atos que fazem pesar uma consciência de valores tradicionais. Ou que fossemos realmente desprendidos e o desapego nos guiasse: quantos dentes tem a chave que arromba teu segredo e adentra teu íntimo sem que possas intervir? Quem é aquele que depõe contra tua liberdade e te faz atonita? O mundo urge para os hedonistas e a cobiça desacerbada elimina preliminares. A miopia do êxtase não deixa espaço para os detalhes e é o observador que sabe o que é refino. À estes estão resguardados o prazer; E é por isso que ela é minha.