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Mostrando postagens de setembro, 2009

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Eu quero é mais! Eu não quero pedaços, nem aquela superfície exposta ao mundo, ou seus dados de interação social. Eu não quero ser um turista na frente da vitrine vidrada. Eu quero atravessar as fronteiras, ir no íntimo, sentir o que há para ser sentido. Eu quero provocar, desarmar, fascinar. Chega de desculpas esfarrapadas, termos mal interpretados, indiferença nomeada de desapego. Chega de saber pouco de muito, chega de coleções intermináveis de quebra-cabeças incompletos, e de livros adquiridos e nunca lidos. * Eu não quero semi-conhecidos . Nem romances que durem uma única noite. Eu já estou farto de percorrer estes caminhos comuns, mediocridade sem limites. E que me limita. Eu quero é te vasculhar por completa por que você, simplesmente, me intriga. Eu não estou interessado em nenhum dos cento e cinqüenta canais da tevê a cabo, mas sim em cada um dos seus pensamentos, na diversidade dos sorrisos que você esboça quando eu sussurro o que você quer ouvir. E quero saber também dos

Pequeno Descuido

Ela desce as escadas de mármore sem olhar para trás. A porta azul de vidro está aberta e sem hesitar ela passa por ela. Eu assisto tudo escondido por trás da fresta da porta de carvalho que ela deixou entreaberta quando saiu. Levantou-se, vestiu a roupa e chamou um taxi. Os ventos assobiam alto e fazem a chuva colidir com a janela da sala escura, e fora isso, tudo no silêncio em que deixamos: intocável. Eu estive quieto, esperando por um beijo. Depois esperei por palavras e então por qualquer gesto. De olhos bem abertos, com o rosto apertado contra o travesseiro macio e o corpo ainda quente e suado debaixo dos lençóis brancos, eu me mantenho paralisado enquanto ela procura na gaveta o número do taxi. Dois minutos de atuação: estátua! Cento e vinte segundos suportando um coração acelerado, a garganta seca e as suas palavras distribuídas para os outros gratuitamente [no telefone]. Contive-me sufocando gritos que sairiam roucos, se escapassem. Mas com tanta sutileza, seus passos quase

Impessoal

Amontoam-se inevitáveis. Como vermes infestando páginas e desuniformizando-as com os diversos formatos que assumem. Tombam ou espremem-se & acomodam-se sobre linhas: tão espaçosos que roubam o olhar! Pensamentos registrados; sinônimos – como palavras-muletas – gravados ao lado do original; explicações de contexto; setas que se cruzam & confundem-se, e desembaraçadas são uma linha de raciocínio explícita. Termos quase ilegíveis, ou mesmo em letras bordadas! Cada um que consumiu aquele calhamaço deixa uma forma de acessar suas ideias, abrir o cadeado da mente que porta. E as páginas, inocentes & ingênuas, parecem não se importar com o abuso dos leitores. Pelo contrário! Conforme envelhecem e dobram-se em amassos sentem falta do toque, de dedos as apreciando, o calor das mãos que transmitem o afinco de um fim de capítulo e o afrouxo do abraço do término & recomeço. Acho charmoso o tempo que se instala tão característico em teu amarelar. Convidativos teus rabisc

Gatunos não amam

Roubo rosas e as levo comigo. Levo lembranças embrulhadas na mente, olhares da gente e uma cara de “eu não ligo”. Roubo a cena e tento voltar com ela para o lugar. Tiro mil fotografias e as faço peças, monto um quebra-cabeça, decoro o lugar. Roubo as gotas da chuva que cai. Roubo o ar que respiro, os nomes em que me inspiro, a presença de quem não sai. Roubo seu tempo lendo asneiras, tantas besteiras de quem não sabe amar.