Pequeno Descuido
Ela desce as escadas de mármore sem olhar para trás. A porta azul de vidro está aberta e sem hesitar ela passa por ela. Eu assisto tudo escondido por trás da fresta da porta de carvalho que ela deixou entreaberta quando saiu. Levantou-se, vestiu a roupa e chamou um taxi.
Os ventos assobiam alto e fazem a chuva colidir com a janela da sala escura, e fora isso, tudo no silêncio em que deixamos: intocável. Eu estive quieto, esperando por um beijo. Depois esperei por palavras e então por qualquer gesto. De olhos bem abertos, com o rosto apertado contra o travesseiro macio e o corpo ainda quente e suado debaixo dos lençóis brancos, eu me mantenho paralisado enquanto ela procura na gaveta o número do taxi.
Dois minutos de atuação: estátua! Cento e vinte segundos suportando um coração acelerado, a garganta seca e as suas palavras distribuídas para os outros gratuitamente [no telefone].
Contive-me sufocando gritos que sairiam roucos, se escapassem. Mas com tanta sutileza, seus passos quase que não ecoaram pelos tacos de madeira da casa e, se eu não estivesse tão desperto, não conseguiria acompanhar a distancia crescente que eles tricotavam de mim. No entanto, antes que minha voz a alcançasse, a porta de carvalho o faz e a leva de mim. E ela leva minhas palavras que não saíram, as lágrimas que não caíram e o coração que não parou de bater um segundo sequer. Leva meu humor escada abaixo logo pela manhã e deixa-me, enquanto a espreito inquieto, apenas seus olhos de menina como lembrança. A surpresa que desponta no olhar de quem confere o que deixa pra trás e se vê sendo assistida, mas se vai... por que o taxi já arrancou e, apesar de cedo, é tarde demais.
Os ventos assobiam alto e fazem a chuva colidir com a janela da sala escura, e fora isso, tudo no silêncio em que deixamos: intocável. Eu estive quieto, esperando por um beijo. Depois esperei por palavras e então por qualquer gesto. De olhos bem abertos, com o rosto apertado contra o travesseiro macio e o corpo ainda quente e suado debaixo dos lençóis brancos, eu me mantenho paralisado enquanto ela procura na gaveta o número do taxi.
Dois minutos de atuação: estátua! Cento e vinte segundos suportando um coração acelerado, a garganta seca e as suas palavras distribuídas para os outros gratuitamente [no telefone].
Contive-me sufocando gritos que sairiam roucos, se escapassem. Mas com tanta sutileza, seus passos quase que não ecoaram pelos tacos de madeira da casa e, se eu não estivesse tão desperto, não conseguiria acompanhar a distancia crescente que eles tricotavam de mim. No entanto, antes que minha voz a alcançasse, a porta de carvalho o faz e a leva de mim. E ela leva minhas palavras que não saíram, as lágrimas que não caíram e o coração que não parou de bater um segundo sequer. Leva meu humor escada abaixo logo pela manhã e deixa-me, enquanto a espreito inquieto, apenas seus olhos de menina como lembrança. A surpresa que desponta no olhar de quem confere o que deixa pra trás e se vê sendo assistida, mas se vai... por que o taxi já arrancou e, apesar de cedo, é tarde demais.
Cara, maravilhoso! O suor, as batidas, o tempo e a tristeza, tudo ficou tão real! Essas despedidas bem descritas me tocam profundamente. Arrepiei.
ResponderExcluirTá, eu tive que ler outra vez. E arrepiei de novo.
ResponderExcluirCerto, como já disseram, deu pra sentir tudo, o tempo, a tristeza, e a solidão final. Muito bem escrito. Parabéns.
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