Raquel, Dizem que pode-se passar uma vida inteirinha sem sequer saber o que se passou. Que alguns poucos se dão conta do ocaso às suas vésperas e partem ocos, angustiados, rumo a um novo parto, talvez. Outros se deixam levar desenganados pelo efêmero, ou num disfarce da insatisfação que nunca chega a maquiar-se bem, mas têm-os irresolutos em sua brevidade infeliz. Há alguns que acabam por entregarem-se ao simples, mas sua sinceridade os sacia de tal forma que é possível enxergar o sublime no brilho de seus olhos. Deus é bonito de se ver. Mas restam ainda alguns poucos que reconhecem-se impermanentes e por isso não se indispõem à vida, mas também não se satisfazem com o óbvio. Destes homens tem-se falado por toda a história da humanidade, precursores das grandes obras e tragédias: a eles não restam opções senão a conclusão de seu propósito mais íntimo. Menos é nada e o nada é um fardo pesado. Eu que muito contemplei o Vazio nunca pude me dar ao comum. Assim desaprendi a resmungar desde