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Mostrando postagens de julho, 2015

Uma a Uma

Eu nunca entendi essas interações forçadas com desconhecidos.  Eu nunca apreciei o assobio. A timidez era respeito e eu sempre soube. Meus colegas não entendiam. Ainda não entendem, mas não são mais colegas.  Eu ria. Sempre ri de tudo; continuo rindo, mesmo sério. Da incógnita que sou, nunca quis atenção gratuita. Eu nunca concedi muita intimidade, mas tenho melhorado com o passar do tempo. Talvez eu seja o oposto da desconfiança amargurada, talvez o envelhecer não tenha de ser rude. Eu já me deparei com a frigidez, mas talvez fosse apenas fragilidade. Eu conheci a frivolidade, mas só de nos apresentarmos. Eu estive com a desilusão e ouvi todas as suas histórias. Não durou, eu acho graça nos desconsolados. Eu não flerto a vulgaridade. A obra é o detalhe, metonímia do ser. Minha intensidade é ritmada, meu amor é dança e ritual. Tudo é sagrado, mas tem quem nem leia poesia... Todo ponto é pausa, todo não é não, tudo é óbvio aos olhos do oráculo. Às vezes uma frase ressoa por horas, mesmo

Os Murmúrios das Margens & o Lamento da Lama

Minha língua tem enrijecido. E isso não é lá tão bom como podem pensar certas pessoas maldosas. Eu tenho perdido a maleabilidade, as famosas papas que ninguém nunca viu, mas que todos ouvem falar. São as boas palavras que nos embabujam. Eu converso muito comigo mesmo, e nós não falamos do clima ou nos perguntamos como vai a família, mas não é nada pessoal. Apreciamos a boa educação e não temos restrição de assuntos, apenas preferimos os cruciais. É o pensar tanto que nos afasta dos demais. E não é que me falte paciência ou linguagem. Adubo e abundo. Faltam-me, entretanto, referências. A introspecção é a ignorância dos desinteresses. Peco em temas triviais, desconheço o contexto comum, eu não sou versado na omnisciência à cabo e estranho os sinais de rede. Não empreendo discussões, não argumento com ferro, não berro senão só. Todavia, o que é grave é que a minha abstenção seja tomada como uma ofensa pessoal. De fato, não tem muito o que ser dito.

Câmbio, desligo.

Papai me ensinou a guardar as moedas desde pequeno. Ele dizia que eu ainda teria muito tempo para ganhar dinheiro, mas que aquelas pratinhas ali eram únicas e é por isso que reluziam tanto. Ele estava certo, seus reflexos enchiam meus olhos e o tilintar que elas faziam era o meu barulho predileto. Nós tínhamos um cofre conjunto, eu e ele, e todos os dias eu o esperava chegar do trabalho, com seu bolso cheio, para eu depositar na fresta estreita o que para ele eram sobras e para mim eram sonhos. Então nós balançávamos bem, para escutar o som prateado e cada um chutava um valor. O cofre vivia trancado. Só o abríamos juntos, e assim meu pai me ensinava a fazer as contas. O dono do palpite mais próximo ganhava a honra de poder guardar a chave consigo até o mês seguinte. Sempre que meu pai ganhava eu passava os dias pensando onde ele a tinha colocado e se ele era um bom guardião de chaves. Imaginava mil e um lugares onde ela poderia estar e também onde eu a esconderia quando a tivesse comig

Analfabetismo

Todo fundamentalismo é fruto de alguma má interpretação.