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Mostrando postagens de janeiro, 2015

Espirro

Te vi a poesia. Mentira, sabe como são os escritores... Não foi tão abrupto. A gente conversava [/automático] e eu me indagava, distante das banalidades, se merecia tanto; não merecia. Então te escrevo essa prosa que é pra saldar meu débito poético, posto que não te fiz musa e nem foda, com todo o respeito. Mais fácil excitar velho murcho do que inspirar autor desinteressado. Maracujá azedo, nem com açúcar de vizinho. E, é claro, antiquado tanto como me convém, torno-me cafajeste em seus lábios, após a leitura maldosa. Mas não tem maldade, é só um desencanto rotineiro. Às vezes eu me engano feio...

Banho de Rosas Brancas

Se um indivíduo for capaz de me perturbar, este então merece o meu perdão pois a Vontade que mensura sua inquietude é maior que a Vontade empregue em minha serenidade.

Quiromante

Analiso as minhas mãos como quem recém encarnou. Em meio ao macio, sulcos de histórias rios que me conduzem além do agora ramificações & modificações a deságua em longos dedos e os nós atados, sujos de tinta. Eu tenho no corpo marcado vestígios de todas as cores que usei. De cada quadro um rastro eis-me alabastro ao Belo! sagrado & sujo nu composto. Do intento, o ingênuo o efeito é causa nova, arte vestal. reflexo.

Ensaio sobre a dor

A dor é sagrada, pois é ela que nos aparta da apatia e da insensibilidade. Aquele que julga a dor do outro é leviano, pois o faz sem meios para tal. Nem a empatia é capaz de compreender as delicadas particularidades que cada situação assume. Todo problema incorpora arquétipos íntimos e evoca uma teia de complexidade tão sutil que pode ser facilmente desprezada por aquele que se apressa em medir tais enigmas e compará-los sob o jugo da razão. Ciência alguma justifica uma crise existencial. O indivíduo regula a si mesmo. Sua percepção da realidade é composta de sobreposições de experiências, fazendo dele mais pessoal do que um amontoado de crenças das quais o próprio compartilha. A dor é o produto da incapacidade de lidar com a própria autonomia. Cada ser opera um sistema único, de soluções individuais e de intensidade incognoscível. É a dor quem sela nossos entendimentos e garante nosso aprendizado. Inqualificável, e portanto, livre.