Ensaio sobre a dor


A dor é sagrada, pois é ela que nos aparta da apatia e da insensibilidade.
Aquele que julga a dor do outro é leviano, pois o faz sem meios para tal. Nem a empatia é capaz de compreender as delicadas particularidades que cada situação assume.
Todo problema incorpora arquétipos íntimos e evoca uma teia de complexidade tão sutil que pode ser facilmente desprezada por aquele que se apressa em medir tais enigmas e compará-los sob o jugo da razão.
Ciência alguma justifica uma crise existencial. O indivíduo regula a si mesmo. Sua percepção da realidade é composta de sobreposições de experiências, fazendo dele mais pessoal do que um amontoado de crenças das quais o próprio compartilha. A dor é o produto da incapacidade de lidar com a própria autonomia. Cada ser opera um sistema único, de soluções individuais e de intensidade incognoscível.
É a dor quem sela nossos entendimentos e garante nosso aprendizado. Inqualificável, e portanto, livre.

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