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Mostrando postagens de dezembro, 2009

Banho

A primeira coisa que fiz ao chegar em casa foi pegar todas as coisas que haviam passado pelas mãos dela e colocar no cesto de roupas sujas. Já não mais suportava seu cheiro. Como sempre, nesses fins de noite que se confundem com o início de um novo dia, fui tomar um banho para esfriar a cabeça. Eu precisava lavar todas as marcas que ela tinha me deixado e a água quente do chuveiro é meu terapeuta preferido. O estranho é que eu não quis mais sair do banho. E ali fiquei, olhando para o teto vendo a fumaça subir e a água descer. Pelo ralo. É, vendo a água descer pelo ralo.

Boneca

teus lábios tremem. e tua garganta está inchada, entalada com o desejo de se explodir nas palavras nela amarradas. teus olhos, suaves, fechados. E eu vou lembrar-te mais uma vez que escorrem lágrimas pelos cantos... teus cabelos com a essência do costume. cheira-me bem. e te sujas o rosto de preto e vermelho para sair e deixas aí eternamente. Por que te borras? Na fotografia, com esses pingos carregados com quem você luta para afastá-los. E quem te deu corda hoje? tuas frases decoradas, está preparada para dizê-las? tuas frases decoradas, está preparada? tuas frases preparadas, está? está?

Orador

Discurso da Escola Técnica de Formação Gerencial de Belo Horizonte, Terceiro Ano B Insaciável! E eu poderia terminar este diálogo por aqui. As palavras cessariam e o silêncio duraria mais tempo do que o discurso propriamente dito. Insaciável! Que assim é o ser humano por si só e foi assim que os pude sentir, meus jovens amigos, durante os três anos de estudos que se concluem. Insaciáveis por não se contentarem! Que o conhecimento nunca bastou e a necessidade sempre foi escandalosa para ser calada. E não me refiro à dificuldade de agradá-los, mas muito pelo contrário, à receptividade! Que todas as palavras - de nossos mestres, colegas, amigos - sempre foram muito bem-vindas, ainda que com a malícia da interpretação que nos foi cobrada logo no início do curso. Insaciáveis, vocês, por serem empreendedores de si próprios. De estarem sempre buscando o melhor e de não medirem esforços ao se comprometerem a uma causa. E com toda essa perseverança se fizeram necessários ao mundo.

Incompleta

Olhei para a estante procurando o lugar de colocá-la ao lado de tantas outras... Mas não! Essa não! Quis levá-la para dar uma volta, tomar um café, apresentá-la a alguns amigos em uma quinta, nesses nossos encontros nada casuais, mas ainda assim divertidos. Quis levá-la para sentir a chuva. Tive medo de borrar, manchar, desmanchar, mas chuva que se preza não respinga, só cai. Contei-lhe sobre os livros que estava lendo, contei sobre os livros que estava escrevendo – e então ela me contou sobre os ciúmes, coisa que (eu) não imaginava. Mas continuei a conversa, assim, como quem deixa as indiretas escaparem. Não é que eu tinha medo de uma discussão – ela viria a qualquer hora –, mas é que não cabiam justificativas minhas, não cabiam pedidos de desculpa e nem promessas. Quero dizer, eu juraria amor eterno, mas não em um monólogo sem sal. Por que, veja bem, quem vê de fora suporta um homem falando sozinho sobre suas criações, apresentando-as às obras que lhe encantam e ensaiando discursos p