Autoridade Espiritual
Quando eu era jovem eu via uma espécie de coroa ao redor da cabeça de algumas pessoas. Não era uma coroa cartunesca & fantasiosa, era só uma aura amarela/dourada, que parecia emanar de seus crânio. Eu acho engraçado, porque eu duvidava da minha própria percepção, mas intuitivamente aquela imagem mental se confirmava: essas pessoas não eram seres humanos extraordinárias, eles não possuam habilidades formidáveis, mas de tanto pensar no assunto eu encontrei o elo comum: todos esses tinham um bom coração. Não de forma leviana, de como se diz: “ah, fulano é assim, mas no fundo tem um bom coração”. Não. Essas pessoas tinham bom coração na superfície mesmo.
Éramos adolescentes, tínhamos as nossas questões e conflitos, claro, mas aquela coroa lhes consagrava o caminho e as atitudes: eu sabia que podia confiar naqueles indivíduos, que eles não me trairiam e nem me prejudicariam.
O engraçado é que, ao tomar consciência dessa emanação luminosa eu comecei a buscar por ela em outras pessoas, e na maioria das vezes não a encontrava. Quando se tratava de desconhecidos me era irrelevante, mas às vezes eu queria encontrar essa coroa em um amigo próximo, e não a via. E me perguntava o porquê. E em algumas situações eu fui descobrir os porquês tarde demais…
Alguém poderia argumentar que essa experiência é pessoal, e apenas aqueles que estavam ligados a mim é que possuíam esse destaque, mas não é verdade. Eu já vi inúmeros anônimos, pessoas que nunca cheguei a conhecer, com essa coroa. E, também, as pessoas que eu conheci na minha adolescência com essa marca de luz se provaram os seres humanos excepcionais em bondade, alegria & encanto. Muitos dos quais eu tenho orgulho de ainda chamar de amigos — o que é uma condição interessante porque essas pessoas parecem ser benquistas em todos os lugares que vão e eu dialogarem com recém conhecidos.
Bem, cedo o suficiente eu entendi que este era um sinal para me aproximar desse tipo de indivíduo. Não por proveito próprio, mas por confiança. Eu sabia que eles estavam mais preocupadas em trilhar seus próprios caminhos do que se aproveitar dos caminhos alheios. Aleister Crowley os chamaria de “crianças coroadas e conquistadoras “, e de fato eles pareciam estar marcados pelo Sol.
O fato é que essas pessoas não tinham uma vivência espiritual formal. Muitas delas vieram a ter posteriormente. Muitas, ao se aproximar das diversas cenas espirituais, foram aclamadas, como já fossem “mais velhos “, como se já tivesse trilhado parte do caminho, como se tivessem, sim, coisas a aprender, mas também já há muito o que ensinar…
Eu fui entender esse conceito mais tarde, mais uma vez ouvi de um professor de espiritualidade que a função das ordens iniciáticas não era ensinar aos estudantes novos conteúdos, mas sim rememorar-los de conhecimentos que eles já possuíam de outras passagens por esse plano, e então conduzi-los o mais rápido possível até o ponto mais distante em que eles haviam chegado anteriormente para que, aí sim, começassem em sua verdadeira jornada. Que as pessoas que não possuíam determinados conteúdos prévios acabariam empreendendo uma quantidade considerável de energia e tempo na formulação daqueles conceitos e experiências, enquanto alguém que já os detivesse rapidamente os processaria e integraria em si, avançando para as etapas seguintes…
Eu, particularmente, não acho que o aprendizado da consciência seja tão linear. Mas eu gosto, sim, dessa metáfora e enxergo o plano reencarnatório com essa mesma função.
Em “As Ordens Esotéricas e o seu Trabalho” a Dion Fortune dá algumas especificações de quantas vidas são necessários para atingir êxito na jornada espiritual, mesmo sob a tutela de um Mestre. Se é assim, talvez alguns indivíduos já venham para esse plano com uma espécie de marca para que possam ser distinguidos e então encaminhados para os seus afazeres e etapas mais propícias para o seu desenvolvimento.
Seja como for, eu ainda enxergo essas coroas luz ao redor de uma ou outra pessoa. E ainda vejo que não as possui buscando por elas ou tentando compensar sua ausência ostentando títulos e outros atributos que julgam-se equivalentes a essa autoridade natural… mas cabeça vazia não emana luz.
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