A Chatisse Visionária


A vida toda chamaram a minha seletividade de maturidade.

Eu que só era um chato que sabia o que queria era confundido com algum tipo de prodígio ou visionário. 

Nunca fui. 

Aliás, dizer que eu sabia o que queria também é exagero. 

Posso dizer, sim, que tinha bom senso. E que conhecia muito bem as normas sociais e institucionais de onde quer que eu estivesse. Mas acho que isso tem mais haver com uma espécie de neurose e ansiedade. 

Eu sempre fui muito observador e analítico, então eu aprendia rapidamente as regras do jogo. De qualquer jogo. Qualquer padrão era facilmente reconhecido e decupado, e era assim que eu aprendia como o mundo funcionava.

Ainda hoje é assim. Eu aprendo qualquer coisa na desconstrução da situação. E isso me permite entender muita coisa abstrata ou que é conhecimento privado e indisponível pros demais.

Quando eu era novo era esquisito, hoje em dia é bom. Eu sei usar ao meu favor. 

Acontece que quando você é muito bom com padrões, é fácil entender o que funciona e o que não funciona. E você se torna mais seletivo.

Então, não é que você tem uma determinação incorrigível de saber o que quer para a sua vida. É que dentre as várias opções, você sabe o que te agrada mais. 

E aí eu fui me tornando o chato que sou. Mas cada vez mais me chamam de prodígio e visionário.

Bem, é verdade, eu já vi muita coisa. E antevejo tantas outras. Mas não acho nada disso extraordinário. 

Eu só sei o que eu quero. Hoje, mais do que nunca.

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