Instruções sobre o Corpo de Luz




Quando estudamos a prática da viagem astral na parte V do Liber O vel Manus et Sagittae muito pouco nos é dito acerca do Corpo de Luz. As instruções são sim suficientes para o estudante executar o ritual, mas o entendimento dos conceitos implícitos na prática só vai se dar conforme ele faz as suas experimentações e reflete sobre as sensações e imagens decorrentes da experiência. Assim, o entendimento do que é o Corpo de Luz é uma consequência da prática, e não é essencial para a sua execução. Por outro lado, o estudante pode achar muito mais fácil empreender tal atividade se ele conseguir formular intelectualmente os conceitos envolvidos e isso fizer sentido para ele. 

Muitas outras publicações tratam desse tema, às vezes de forma superficial, outras vezes de maneira muito técnica e enfadonha, e outras tantas vezes com um viés muito específico e um vocabulário inapreensível e dispensável. Nesses casos a abundância de informações, muitas vezes até contraditórias, acaba por afastar o estudante ou fazer parecer que a prática da viagem astral seja algo difícil. Não é. 

Esse artigo tem a intenção de apresentar o que é o Corpo de Luz, qual a sua natureza e função, e como o estudante pode operá-lo de forma acessível, prática e coerentemente. O entendimento do Corpo de Luz leva ao entendimento do Plano Astral e, por conseguinte, como desbravá-lo. A nossa intenção aqui é justamente preparar o estudante para isso. 


O Corpo de Luz, também chamado de Corpo Astral ou Duplo Etérico, é uma massa amorfa que se sobrepõe ao corpo físico e o circunda. Sua extensão é variável e depende de inúmeros fatores, tais como a saúde, o humor e o magnetismo do indivíduo. Assim, conforme os diversos estados de consciência se sucedem, também esse campo se altera e se apresenta em formatos, tamanhos e cores variadas. Esse campo que se estende para além do físico é chamado de Aura ou Campo Etérico e, por mais que ele seja tido como invisível, em certas circunstâncias ele pode sim ser visto e até tocado. Exercícios como o Psyball permitem que os curiosos ou aqueles que se julgam insensíveis manipulem parte dessa energia em suas mãos e atestem nossas palavras. 

A principal característica do Corpo de Luz, bem como do Plano Astral, é a sua plasticidade, ou seja, os imagens e a substância que as animam são moldáveis conforme a vontade do indivíduo.  Isso significa dizer que por meio da projeção da intenção pode-se moldar o nosso próprio corpo astral, as ferramentas que utilizamos, os cenários em que nos encontramos e boa parte das figuras com as quais interagimos. 

Essa modulação é muito simples de ser feita e depende de dois fatores principais: imaginação e intenção. Utilizamos a imaginação para criar, modelar, estruturar e delimitar as ideias, conferindo-lhes a forma que desejamos. E então usamos da intenção, ou vontade, para preencher, direcionar, animar e manifestar as formas previamente criadas. Essas formas-pensamento são extensões da psique do magista e se sustentam enquanto dura a energia com a qual foram abastecidas. Essa energia é justamente a vontade que a insuflou, que possui variações em sua qualidade conforme as variáveis previamente citadas de humor, saúde, magnetismo, entre outros tantos fatores. 

O ponto que aqui desejamos demonstrar é que as criações mentais do indivíduo são extensões dele mesmo, de forma que a sua consciência não se resume apenas ao seu corpo físico ou astral, mas se projeta conforme a sua vontade lhe direciona. E é justamente sobre isso que se trata a viagem astral: uma projeção da consciência para além de seu centro, sem que no entanto deixe de também ali estar. A questão principal aqui é o foco - direcionar a atenção para estar apenas onde sua vontade está lhe conduzindo. O corpo físico permanece inerte, a consciência também está ali, mas o foco e a atenção revelam experiências remotas e inéditas, e é isso que importa nesse momento. 


O texto do Liber O instrui o estudante para que ele “imagine a sua própria imagem (preferencialmente vestido com os trajes mágicos adequados e armado com as armas mágicas adequadas) como se ela envolvesse seu corpo físico ou estivesse próxima e em frente a ele”. Essa passagem emprega uma palavra importante que já utilizamos anteriormente: imaginação. A imagem que é formulada o é através da visualização criativa e só vai se estabilizar e estar pronta para o uso como veículo etérico da consciência depois de ser imantada com a vontade do indivíduo. Agora, perceba que a dúvida é a inimiga da vontade. Quando o projetista se sente inseguro acerca de como deve ser a sua imagem, sobre as preliminares do ritual, ou se sente ansioso pela viagem que está prestes a empreender acaba por comprometer a estabilidade de sua consciência e, por conseguinte, a eficácia de suas criações mentais. E, claro, isso se aplica na prática da viagem astral, mas também em qualquer outro tópico da vida: a dúvida marca a presença do indivíduo perante os demais, tal como o medo de uma presa é explícito para seus predadores. Portanto, o correto é se preparar previamente e eliminar boa parte da  insegurança e dos imprevistos. 

Então você pode estar se perguntando: qual é a minha imagem? Quais são os trajes adequados e quais são as armas adequadas? E se eu não os possuir, não posso projetar minha consciência? E essas são perguntas perfeitamente normais e que devem ser examinadas, começando do final: qualquer pessoa pode se projetar, independente de sua imagem, de seu grau de consciência ou competência iniciática, da posse de suas armas ou trajes. Assim, os trajes e armas adequados, dentro da Santa Ordem, correspondem aos elementos do seu grau atual. Ou não. Ou você pode decidir usar elementos e acessórios genéricos e que sejam mais compatíveis conforme você se enxergue ou se sinta à vontade. O ponto aqui é justamente esse: encontrar o ponto de equilíbrio em que você se sinta confortável com a sua imagem. E é exatamente isso que gostaríamos de propor nesse artigo, que mais do que uma mera prática de desdobramento da consciência, o estudante possa avaliar a si mesmo e chegar num consenso de como ele gostaria de se apresentar para o mundo. Não só em termos imagéticos e estéticos, mas quais as reações que ele deseja provocar a partir de sua presença? Se estamos falando de projeção astral, precisamos refletir não apenas no fenômeno que experimentamos, mas no evento que provocamos com a nossa presença, seja ela física ou astral. 

Eu descobri que uma forma bastante divertida de explorar a minha imagem astral foi me pôr a desenha-la no papel. Folhas e mais folhas de rascunho iam se multiplicando conforme eu decidia os detalhes do meu traje, quais armas mágicas de fato cabiam em minhas mãos e se eu me sentia confortável em carregar toda aquela parafernália comigo, como eu enxergava o meu rosto, meu cabelo, meu corpo, qual sensação eu causava - em mim e nos outros -, enfim, aos poucos eu ia esculpindo a minha autoimagem ideal a partir de uma examinação de quem eu era e de quem eu queria ser. 

Eu não preciso dizer que esse exercício me proporcionou uma série de reflexões riquíssimas que encheram páginas do meu diário, não sobre a projeção astral em si, mas sobre como eu me enxergava e sobre as possibilidades de nos redefinirmos. 

O Corpo Astral tem um formato pré-moldado, como quase tudo no plano astral. Essa imagem com a qual entramos em contato logo de cara é fruto do nosso inconsciente naquele momento. Ela não é estática e se altera conforme nossas variáveis internas e externas. E, não sendo estática, não é também estável e, portanto, é pouco eficiente para projeções mais elaboradas. Por isso todo esse exercício de definição e construção do Corpo de Luz. 

Mas lembre-se que embora o Corpo de Luz seja plástico e aceite todas essas definições, nós precisamos bancá-las. Mais do que imaginação, é necessário vontade. Vontade é o combustível para sustentar a imagem. E através da aplicação da intenção nos comprometemos conosco mesmo e criamos um vínculo definitivo com a forma, incorporando-a em nosso interior e sincronizando nossas referências internas. 

Aqui há ainda um último passe de mágica: quando levamos esse exercício realmente a sério e nos pomos a reformar nossa autoimagem acabamos por manifestar essas mudanças também no físico: em nossos hábitos, nossas vestimentas, a forma como nos apresentamos e as projeções que causamos. Se o Corpo de Luz é o veículo etérico da consciência para a vivência de situações remotas, o corpo físico é também um veículo da consciência, mas para a execução de nossa Vontade no mundo. É inevitável que essa formulação interna reflita diretamente no externo. É desejável que assim o seja. Esse é o propósito da magia. Esse também é o propósito desse texto: conferir novas perspectivas para que você ajuste suas projeções no mundo. Tome parte de Si!


Comentários

  1. Excelente texto. Esse tema sempre falta um toque pessoal na literatura ocultista por ai, que no final só é um recorta e cola.

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