Considerações acerca da relação entre o discípulo e o Mestre


A relação de Mestre e discípulo é como um vínculo empregatício. Ambos têm vantagens e ambos têm responsabilidades. 

Os Mestres sempre cumprem com as suas responsabilidades, posto que a Sua Vontade é a Lei e eles não se movem aquém ou além dela. Os Mestres são a Vontade divina e, portanto, seus atos são impecáveis. O que significa que as suas vantagens também não são muitas, posto que não têm o que ganhar - em termos pessoais. 

Porém, quanto ao discípulo, o quadro é bem diferente. Suas responsabilidades se remetem tanto ao seu compromisso com o Mestre que lhe acolheu, quanto com a sua própria Essência e a execução do seu propósito. Em verdade, ambas as tarefas não estão dissociadas e o trabalho com o Mestre acelerará e muito a trajetória do discípulo rumo à sua consecução. Entretanto, cabe ao aspirante observar as regras e os limites que o Mestre impõe, posto que ele é severo e não tolera deslizes injustificados. 

Assim retornamos à nossa metáfora: o vínculo empregatício se sustenta quando ambas as partes cumprem seus papéis. Se a parte auxiliar serve ao propósito da empresa, então a parte coordenadora faz vista grossa a alguns deslizes ou concede certos benefícios que extrapolam o contrato. Porém, se a parte auxiliar falha em executar os seus compromissos e interfere no andamento dos projetos (1. da empresa; 2. seu, Essencial), então a parte coordenadora age com severidade e confronta o indivíduo, podendo suspender o vínculo indeterminadamente ou até revogá-lo por definitivo. 

Essa relação de mutualidade só é possível porque os próprios Mestres se dispuseram a servir ao Altíssimo incondicionalmente e eles não esperam nada menos do que isso de seus discípulos. 

A falha consigo mesmo é uma falha com o TODO. Não existe um trabalho abnegado que esquece de Si e quando o indivíduo abandona a própria essência sob a justificativa de servir apenas a Deus, então abandonou-se o próprio caminho para Deus para servir exclusivamente suas fantasias da divindade. Ainda que seja benéfico, que seja tido como altruísta, que lho aplaudam pouco importa em sua trajetória, pouco importa no plano geral. Nada se pode fazer desconjuntado. É preciso estar presente para que a Presença ressoe. 

E quanto ao indivíduo que, pelo contrário, acredita estar cumprindo exclusivamente os seus desejos sem que tenha em conta os planos do TODO este falha em assimilação e em discernimento. Assimilação por não saber que todos os seus atos compõem um registro único, indistinguível, que não pode ser apagado ou rasurado, aos quais os Mestres - e outras tantas inteligências sensíveis - têm acesso integral em tempo real. Discernimento por não saberem distinguir suas Vontades de desejos e se embaraçarem em seus fluxos e fios chamando de propósito aquilo que nem sequer surgiu dentro de si. E justificam tudo como um desígnio divino ou como a lei da liberdade em que pecado é fugir de seus desejos, e sem discernimento, de novo, correm para servir aos desejos dos outros que lhes imputam e manipulam por trás da invisibilidade da descrença e da iconoclastia. Ou mesmo, em outros tantos casos, da idolatria cega que se dispõe a um deus que em nada se assemelha às Vontades da Essência do indivíduo e o afasta daquilo que ele É. 

Enquanto este se castra na subserviência, aquele se esteriliza no culto à falsa liberdade. E nenhum destes serve como discípulo até que encontre a Si mesmo primeiro. E todos estes quando estiverem diante de um verdadeiro Mestre em sua frente não lhe reconhecerão e até mesmo lhe desprezarão, pois indivíduos insensíveis que não são capazes de ouvir a aspiração gritante de sua própria Essência também não poderão discernir a sutileza da Presença que, no entanto, é tudo o que buscam. 

E então vocês perguntam: por que tão poucos Mestres? Por que tão menos discípulos? Onde se reúne a augusta Fraternidade de que tanto se falou? 

Se reúne em seu coração, leitor. Esse é o átrio. Acha que estás pronto?

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