Iluminação Coletiva

Nossa percepção de mundo é construída em torno de narrativas, a forma como estruturamos o que julgamos entender dos fenômenos que nos ocorrem, direta ou indiretamente. A história que nos contamos sobre como entendemos as coisas. 

Quando temos uma narrativa viciada, isto é, quando a nossa perspectiva começa a se limitar apenas às mesmas referências de sempre e nós não temos capacidade empática para compreender narrativas diferentes - e não apenas racional e analiticamente, mas também emocionalmente e até mesmo energeticamente - então nós estamos atrelados a um ponto de vista perecível. Um túnel de realidade que vai se estreitando cada vez mais com o passar do tempo. E isso porque o tempo deprecia as nossas certezas em razão da nossa crescente capacidade de apreciar o Real. Tal como o Apocalipse que revela o Incognoscível e suplanta os dogmas pré-estabelecidos. 

O que importa aqui, no entanto, não é nenhuma revelação de Verdades Absolutas, mas a função de que narrativas limitadas (e limitantes - porque quem se limita também limita o seu entorno) nos tornam gradualmente mais individualistas. 

O padrão é, sim, óbvio: quanto menos nos dispomos a enxergar e dialogar com os demais, mais reforçamos nossas narrativas e crenças. Mais buscamos das mesmas fontes apoio para endossar nossa miopia. O que não é óbvio é como reproduzimos esse padrão inconscientemente quase que o tempo todo, nos diversos aspectos de nossa vida. Mas, o que é o mais absurdo: como que, ao nos percebermos fanáticos, repelimos essa lucidez momentânea como se ela fosse uma vulnerabilidade ou uma derrota. 

De fato o é: a fresta pela qual se arejam nossas perspectivas, o ponto de fragilidade em nossas couraças energéticas, a súplica da humanidade que tentamos incansavelmente sacrificar em prol de nos automatizarmos para vivermos no conforto da certeza imperecível. Uma especie de Nirvana artificial, você vê. 

Esse texto é só para dizer que a iluminação é coletiva. Não caia no conto neoliberal da salvação individual. “Deus é todo mundo sorrindo ao mesmo tempo”. 

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