Cerimônia Felipe e Lorena - 25/01/2020

Existe um conceito que a tradição oriental apresentou pela primeira vez para a humanidade e que revolucionou o inconsciente humano. Esse conceito é a experiência da transcendência, a chamada Iluminação, a dissolução no corpo de Deus, ou mesmo o arrebatamento divino, Samadhi, Satori, a ascensão, entre outros tantos termos.
Tal conceito nos é muito familiar porque, embora às vezes nunca tenhamos estudado nenhuma crença mística ou religiosa, ele preexiste para nós como o ideal de felicidade e de  saciedade. Em nossos sonhos, quando estamos alegres, em um campo verdejante, ou em uma suntuosa mansão, cercados dos bens que gostaríamos de ter, experimentamos essa sensação de saciedade. Mas não saciedade material, e sim existencial. Um sentimento de completude e de autenticidade que raros eventos do nosso cotidiano conseguem evocar. E são esses os eventos que valem a pena na vida, pois são eles que nos conduzem a essa meta universal.
Toda religião instituída na Terra tem como objetivo esta saciedade: o cessar do sofrimento e a compreensão de nossa natureza espiritual. Os métodos podem ser diversos, mas o resultado só é obtido quando o adepto é capaz de expressar a sua verdade interna com proficiência e sem pudor. E descobrir essa verdade interna, às vezes, é tarefa de vidas! 
Místicos e eruditos não se cansam de propalar a importância da descoberta de nosso propósito divino para a auto-realização. O segredo, no entanto, está na simplicidade. E, de tão simples, acaba sendo algo natural para aqueles de maior sensibilidade. Trata-se de aprendermos a ouvir o nosso coração. Como nos diz o mítico Dom Juan de Carlos Castañeda, é preciso que aprendamos a nos perguntar:
“Este caminho tem um coração? Se tiver, o caminho é bom; se não tiver, não presta. Ambos os caminhos não conduzem a parte alguma; mas um tem coração e o outro não. Um torna a viagem alegre; enquanto você o seguir, será um com ele. O outro o fará maldizer sua vida. Um o torna forte; o outro o enfraquece.”
Realizar o nosso propósito não tem muito a ver com sacrificar-se pela humanidade. Trata-se muito mais de um ato de auto-amor, de nos promulgarmos como responsáveis pelos nossos sonhos e de fato aceitarmos ser quem realmente somos. Abraçar a grandeza do nosso potencial, sermos íntimos conosco mesmos, sabermos o que de fato nos preenche com a saciedade metafísica do viver. Afinidade é aquilo que ressoa conosco. É preciso ousar ser feliz para realmente sê-lo.
Dito isso, talvez o casamento seja o maior desafio do homem moderno. E não porque seja difícil encontrarmos alguém que ressoe conosco, mas porque a verdadeira dificuldade está em nos permitirmos ressoar em conjunto – constantemente. 
Em função do amálgama que somos, esse complexo de desejos, aspirações e perspectivas que estão em mudança contínua, estabelecer um vínculo de sintonia de longa duração exige empatia e colaboração; dedicação e fidelidade. O relacionamento não precisa resistir ao tempo. Isso seria antinatural. Não existe virtude na resistência; a beleza da vida está na transformação, e a beleza do relacionamento está no conjunto, na flexibilidade, na adaptação. Perdurar, não resistir. Resolver, não tolerar!
Se o segredo da saciedade do homem está na capacidade de ouvir seu próprio coração, a fórmula da união está em aprender a ouvir o coração do outro – escutar suas palavras, seus gestos, seus sonhos e mesmo o seu silêncio. Ouvir e se pré-dispor a compreender, ouvir como quem escuta o sussurro da alma, a sutileza da arte, o canto do inaudível. Até que não haja palavra alguma e mesmo assim haja compreensão e consenso. 
Se é telepatia ou se é harmonia, tanto faz! O amor tem dessas coisas de provocar o incrível! E é por isso que eu queria ouvir de vocês, Felipe e Lorena, o que vocês têm a dizer um ao outro. Porque nos revelamos de forma mais sincera e sublime pela boca de quem nos ama.

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