As Lacunas Preciosas

As Lacunas Preciosas

ou O Êxtase do Vazio


O ano tá acabando. Sabe, eu faço o meu diário todos os dias. Todos os dias pela manhã eu anoto como foi a minha noite de sono e o que esperar para aquele dia; todos os dias pela noite eu concluo os pontos altos do dia, registro minhas práticas e os acontecimentos mais marcantes. 

Nem sempre eu tenho muito a dizer, afinal, a vida de ninguém é interessante o tempo todo... mas eu me forço prestar atenção em alguns detalhes, sobretudo quando eu estou trabalhando alguma qualidade específica do meu Ser ou algum aspecto da minha vida. Observar é importante para se conseguir tecer análises sólidas. Muitas vezes eu tenho insights repentinos, uma conclusão inesperada que me permite contemplar todo um ciclo de causa-e-efeitos se fechar bem diante das minhas linhas escritas. Vez ou outra é isso que me fornece soluções espetaculares para problemas nem tão óbvios. Eu gosto de pensar que é uma espécie de terapia das palavras. 

Mas para além desses dias comuns e dos insights que me fascinam, eu meço os altos e baixos do meu ano pela quantidade de vezes em que eu fiquei sem palavras ou não pude descrever uma sensação. Sabe, as pessoas têm a falsa ilusão de que quanto mais se escreve, mais se tem palavras para medir o mundo, e isso é uma grande mentira. Claro que se adquire vocabulário, claro que você passa a ter uma capacidade de interpretação da realidade - e de si - mais primorosa, mas você também passa a ser mais específico, suas definições passam a ter um peso maior e muitas vezes você simplesmente não se atreve em registrar o inédito, justamente por medo de limita-lo ou impregná-lo com nossos vieses e pré-julgamentos. 

Não me entendam mal: escrever é preciso. É só através da tentativa de construção interna do objeto da percepção que conseguimos de fato contemplar a riqueza do fenômeno, e o registro ajuda muito nesse sentido de fornecer uma linha temporal de interpretações. No entanto o que está em jogo não são as técnicas de registro e nem como, quando e porquê se registrar. O ponto importante aqui é o novo, aquilo que nos deslumbra e que foge do nosso arcabouço, das nossas respostas prontas, que expande um pouco a nossa experiência do mundo. É esse o fenômeno da expansão da consciência: experienciar e não ter respostas automáticas prontas. Quando é preciso algo de inspiração & poesia para poder descrever o que se presenciou. É assim que eu mensuro os pontos altos e baixos do meu ano. É assim que eu entendo por onde eu tenho caminhado e o que é importante para mim.

Quanto mais as palavras me tentam, mais eu esforço para exprimir o inefável - em mim. Indiscritível: é o que deveríamos ser.

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