Jardim
Eu tinha 16 quando comecei a escrever de verdade. Guardei por 10 anos o que achei que ninguém nunca iria querer ler. Aqui, neste canto virtual, num campo aberto no meio do nada por onde mal passam peregrinos ou curiosos, plantei um jardim de palavras cada dia mais escassas. Ainda assim, devo dizer, as namoro semanalmente. Mesmo sentindo a minha poesia secar ao sol, se desfazendo pétala a pétala e desaparecendo na imensidão do todo; mesmo que a míngua do verbo murcho me cause esta angústia silenciosa; mesmo que eu continue a alegar falta de tempo, falta de ânimo, falta de êxito, ainda assim eu as namoro semanalmente. E isso por que eu vim a me dar conta de que eu não passo de uma organização literária, mera junção de letras que compõem os conceitos do meu microcosmo, essa percepção à qual me apego como se fosse verdade, como se eu soubesse o que é a vida. Então eu contemplo este jardim vendo cada uma das flores que eu já fui. E agradeço ao jardineiro por este alento aos olhos e à alma. Ele sou eu. O cumprimento e penso: eu devia passar mais tempo por aqui, ainda tenho muito o que aprender. Ele sorri, como se tivesse ouvido o meu pensamento, e me pisca o olho. Há ainda muita terra a ser cultivada.
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