Uma Consideração a Respeito dos Outros



Sempre que eu preciso interagir com pessoas extremamente distoantes do meu contexto ético, cultural ou social eu me coloco numa postura indagadora a respeito do porquê de aquela relação estar se estabelecendo assim, o que aquela pessoa representa dentro do meu universo particular.
Eu aprendi certa vez com "João São João" - no diário místico do Crowley - a "interpretar todo fenômeno como um trato particular entre Deus e minha alma"; aprendi que o microcosmo conversa em entrelinhas, que nada neste mundo é vão. Tudo é sagrado, já diziam. Mas entre dizer e viver há tanto, tanto, que pode-se chamar de O Abismo.
Bem, às vezes essas encruzilhadas com os outros nos conduzem a Paraísos Perdidos, Shambhala, Eldorado, vislumbres! monumentos erigem-se num diálogo rápido. Outras tantas vezes estas topadas são apenas marcos nos caminhos, algo para nos situar onde estivemos, com quem estivemos, o quanto andamos mais para a direita ou para a esquerda. É parte do caminho contemplar as paisagens distintas e acenar bondoso, sorridente. Todo viajante precisa de estímulo, mesmo num turismo despretensioso, então eu sorrio e aprovo... Um tapa nas costas e a diáfana certeza de, se tardar, o reencontro Último.
Nem sempre podemos solucionar problemas, aparar dúvidas, consolar as dores de quem nos encontra. As vezes somos nós os surpreendidos pelas questões suscitadas... Mas sempre podemos ter a consciência do Caminho. Podemos ser gentis, solícitos, voluntariosos. É essa a manifestação do Amor na esfera da impessoalidade. Firmeza para não se deixar arrastar, mas ternura para dobrar a tempestade. Pois Amor sim, mas sob Vontade.
Quanto ao resto, é só um caminhar sereno, como numa madrugada à beira da praia embriagado de si mesmo. O êxtase de andar num rumo torto, mas confiante de que a viagem prossegue e um dia chega-se... Deus sabe onde.
Até lá a gente vê ainda.

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