Um Relato do Espontâneo

Dos Objetos Que Nos São Presenteados


Eram 16:00 horas da tarde de uma quarta feira e eu havia pegado serviço mais cedo. Tinha me preparado para sair de lá e ir ler ou escrever qualquer coisa em uma praça.
No serviço eu vi dois pedaços de corda que a gente não ia usar e decidi levar comigo para fazer alguns artesanatos. Então, ao sair do trabalho eu fui para uma praça, mas não me demorei 20 minutos lá por que o clima não me agradou. A mesma coisa numa segunda praça até que eu decidi ir ao Parque das Mangabeiras já que eu estava do lado e não seria perturbado.
Ao chegar qual a minha surpresa em descobrir que haviam milhões de bambus plantados? Eu já estava procurando por um lugar em que eu os pudesse colher na natureza sem ser incomodado e sem incomodar ninguém. Andando pelo parque eu cheguei num lago em que desaguava uma cachoeira e havia uma mulher vestida de Oxum(!), um ogan com um pequeno atabaque, uma criança que estava sendo abençoada pelo orixá e alguns fotógrafos registrando o ensaio que tinha um quê de ritual. Já achei aquilo tudo maravilhoso por que tenho um grande carinho por Oxum, uma das Mães mais presentes em minha coroa. Para completar eu me deparei com um bambuzal amarelo de exemplares grandiosos que envergavam por cima de outra cachoeira demonstrando toda sua força e seu poder de flexibilidade. Não é preciso dizer que por ali me quedei querendo meditar um pouco e absorver aquela energia maravilhosa que estava se dando naquele momento singular.
Sentei-me num toco de árvore que mais parecia um trono e meu corpo começou automaticamente a responder àquela energia grandiosa pela qual eu estava cercado. Sereno eu ia me entregando à introspecção e incorporava aquele estado de pura contemplação; diluía-me no todo, grato pelo dia que me fora presenteado daquela forma. 
De repente eu olho para o curso de água que se formava da cachoeira - na qual eu estava sozinho(!), diga-se de passagem - e vejo um bambu verdinho, exatamente da espessura que eu procurava e um pouco mais longo do que eu estava imaginando. O bambu simplesmente estava encalhado no curso da água, recebendo toda aquela energia do ambiente e ainda que imerso na água, estava verde!
Assim que eu bati o olho nele eu proferi "esse é meu". Agradeci o presente ao orixá e me dirigi ao riacho. Saudei o lugar, molhei minha cabeça na queda d'Água, lavei minhas mãos, lavei meus Instrumentos que estavam comigo e pedi licença ao bambu para recolhê-lo. Quando o peguei já me antecipei: tenho que fazer alguma coisa para passar despercebido pelos guardas do parque. 
Eu já sabia que aquele era um presente e que, portanto, eu o levaria em segurança, só não sabia se eu teria dores de cabeça, então eu chamei meu Exu e pedi para que ele abrisse os caminhos e chamei alguns guias para cuidarem da minha invisibilidade. Lembrei de uma técnica que eu não usava há muito tempo e a empreguei para diminuir a atenção de mim - um homem grande com um pedaço de dois metros e meio de bambu nas mãos.
Passei pelas ruelas do parque todas vazias e assim que cheguei na guarita do guarda, na entrada do parque, apressei o passo. Nessa hora eu sentia que cada pisada minha era equivalente a um terremoto, então acho que ninguém se colocaria na minha frente, embora eu nem tenha visto sombra do guarda.
Sai do parque um pouco nervoso, andei até a caminhonete e coloquei bambu na caçamba. Por sorte eu tinha pego as cordas mais cedo por que descobri que justamente no dia não tinha nenhuma no carro. Amarrei a vara na caçamba, num improviso rápido e me mandei do lugar, agradecendo pela experiência e pelo presente que me renderá o cajado que eu estava planejando. 
É incrível pensar que alguns objetos nos escolhem e que as situações se administram na inteligência sublime para colocar cada coisa em seu devido lugar. É maravilhoso poder ver com tanta nitidez o universo de manifestando com vida própria e isso nos incluindo beneficamente. Fazia algum tempo que eu não tinha uma experiência de Poder tão singular e é bom poder registrá-la assim, da forma como eu a percebi. Assim Foi & Assim É.

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