Dos Desígnios Maiores & Da Economia do Apego
Na maior parte do tempo eu me sinto impelido a realizar algo muito maior do que eu, como seu fosse instrumento de uma vontade externa e que para alcançar a dignidade eu precisasse me dedicar com disciplina de uma forma como eu nunca o fiz.
Na maior parte do tempo eu sinto que o meu nível de exigência é muito maior que o dos demais, que eu não sou insaciável, mas que o meu mínimo é muito maior que o razoável dos outros, e que essa perspectiva e expectativa acaba soando rude e autoritária. Eu me sinto como um exército de um único homem marchando pelos áridos desertos da disciplina e da concentração.
Na maior parte do tempo eu me ocupo desses assuntos que não me parecem tão meus, mas, às vezes, com uma regularidade que eu não sei precisar, e com uma certeza originária não sei de onde, eu sinto que eu estou apenas cumprindo tempo. Eu sinto como que se o objetivo ao qual eu me dediquei já tivesse sido alcançado e que eu apenas tenho tempo livre em relação àquilo para me desapegar do resultado e desfrutar da calmaria que me é ofertada.
Essa sensação é um deleite porque a promessa é clara e firme. É como se o destino que precisava ser decidido já o fora e que tudo o que resta é vivenciá-lo em plenitude. É como se fosse uma temporada de férias daquele assunto específico no qual tudo já está encaminhado por que o que tinha de ser feito já o fora.
Hoje eu reconheço que essa sensação nunca me havia acontecido antes por que eu sempre vivi de férias e nunca me dediquei a nada. Tudo meu sempre foi feito de última hora, eu vivia de apelos e de prazos finais num desespero de agir contra a minha vontade e por obrigações diversas e é claro que isso nunca me levou além do óbvio. É como todos vivem, essa mediocridade que já não encontra mais espaço sob as minhas tarefas.
A compreensão da conquista de metas adiantada dialoga com a metafísica do tempo-espaço, dialoga com os desígnios mais íntimos do nosso ser, de fazer o que se tem que ser feito sem a arguição consigo mesmo do que é melhor para si. É estar atento ao que há de Maior e executá-lo sem procrastinação.
Um dia eu já fui teimoso, hoje eu prefiro ser sábio.
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