Imemorável
Ao
orador que não decorou o que havia de ser dito.
Logo eu, que
não aprendo por repetências, mas na análise do conjunto. E quiseram fazer de
mim o astro principal, com palavras anexadas à boca que deveriam ressoar mais
do que minha própria voz.
Logo eu, que
não abro mão de reticências, e em conformidade com minha essência, digo o que
quero sem palavras de outrem! E ai de mim, das palavras minhas, que mesmo
compostas, hão de ser mutantes: adaptam-se aos públicos.
Não, não sou
eufêmico! Não me leve a mal, mas não me parece justa a proposta de amenizar a
dor de quem escuta uma verdade. O que faço é aliar a vibração das letras com o
que o ambiente pede. Não lido com estes discursos prontos, não sirvo de intérprete,
nem sou mediador da experiência de uma plateia que não teve competência para
chegar às suas próprias conclusões.
Exalto-me em
altos e baixos e encaixo-me nas lacunas que vão chamar de silêncio, mas que
vibram mais do que as curvas dos esses ao denominarem plurais e pecarem pelo
excesso.
Deram-me
parágrafos rígidos; falas falsas, dessas que falseiam mesmo no papel, quem dirá
nos ouvidos de um público xoxo.
E eu nem sei
quem são os convidados, mas descarto-os de antemão por que vim para fazer
estardalhaço: não sou seu representante! Votem em si próprios! Eu vou dizer
tudo, tim tim por tim tim, e com minhas palavras! Aguardem!
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