Imperfeito II
depois que o casulo se rompe.
mas há quem vá sentir saudades, portanto:
“Que queres?”
“Que me tomes
por completa!”
“Pois como eu
poderia? Se já não és mais nada e nem sequer existes!”
“Que te fiz
para que sejas tão cruel?”
“Nada me
fizestes! Nunca existiu. Ando em delírios, conversando com assombrações...”
“Mas que faço
em tua fronte? A pelejar que ao menos me olhes nos olhos enquanto cospes-me
palavras!”
“Em minha
fronte, ou em meu encalço: tu somente me perturbas. Sombra minha, vejo-te em
cada esquina!”
“Pois vês me
demasiado! Mesmo eu, que já não saio de casa sem esperança, e vivo na
expectativa de encontrar-te aonde quer que eu vá, frustro-me diariamente sem
saber mais a qual santa recorrer, qual promessa realizar! E ainda a Lua que
evoca-me tua imagem e que me escuta dia e noite, em meus lamúrios sussurrados à
escuridão...”
“Mas antes
fossem sussurros e a escuridão fosse tua única cúmplice. A cidade chora pelos
teus erros, histórias mal contadas de tantos pontos extras que emocionam
amantes de novelas alheias. Maqueias
teus arrependimentos, faz com que pareçam sinceros! E ainda falas em Lua! Qual
Lua, que já não me visita há muito!”
“E a noite
deixou de aparecer por aqui?”
“Desde você.”
“Desde mim. Por
que me torturas?”
“É inevitável
que martirizes-te, tenhas-te como vítima. A ironia é que ambos sofremos com
isso.”
“Culpemos o
cupido.”
“Fácil
demais. Quantas flechas Eros destinou a ti?! E por que não te vingas na dúvida?
Maldizei-a e chamai-la cruel por ter de optar entre os destinos que lhe são
concedidos!”
“Quais
concessões árduas!”
“Presente de
grego?”
“Literalmente.
Mas não sei se chega a ser isso...”
“Não sabes o
que queres.”
“E tuas
outras mulheres?!”
“Que têm?”
“Quantas já
não adoeceram de tanto pensar em ti?! Quantas já não passaram cabisbaixas por
mim e eu não te soube como causa?! Que o caos é teu sobrenome e te orgulhas
disso!”
“E é este o
motivo de tua hesitação? Temes ferir-te?”
“Mais do que
já o fiz? Ou devo culpar-te pelas cicatrizes?”
“Personifique
teus sentimentos como lhe aprouver! Só o que lhe garanto é que se tiveres uma marca minha em tuas memórias,
será a mais duradoura.”
“Volto a
perguntar-te se isso é motivo de orgulho.”
“Eu apenas
lido bem com o fardo que carrego.”
“Quem me dera
ser tão decidida.”
“Sabes como
dizem por aí: “tente novamente”. Acho que vai soar mais legítimo quando te
ofereceres como uma prenda com um discurso dramático ensaiado. Não me leves à
mal: admiro rostos de bonecas, mas sou do tipo que reescreve finais a medida
que seus sentidos extinguem-se.
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