Afã


Hoje meu lar é um ponto de ônibus, um banco no aeroporto. Faço a minha casa em qualquer esquina, qualquer espera. Vida de encruzilhadas.
E compartilho o destino com desconhecidos em minutos que se estendem imponentes. O relógio assenta-se por graça, pomposo & gozado! E, como a lebre, perde a disputa. Hoje o dia é da tartaruga; do viajante.
Avenidas são linhas de nós cegos em mapas desajustados. As ruas são vias deserdadas da cidade, perdidas por aí apenas com um nome nas costas. A palavra é gratuita, mas é tão pesada que um silêncio intocado se estende nas matracas preguiçosas & sedentárias. Sons disformes embalam uma sinfonia inorgânica & perturbadora: trilha sonora do cotidiano, despercebida como um filme automático. É nesse contexto em que se configuram guias turísticos todo & qualquer transeunte.
Um contrato cercado de termos & entrelinhas cujas assinaturas são dadas num desvairo sutil. Surto social hereditário, mas artificial, numa estrutura que não se sustenta por viver de muletas: apoia-se & debruça-se & fixa-se: vai de encontro à impermanência e configura-se constante! Transeuntes (estes sim) turistas, perdidos na vida por não saberem esperar!

“encha-me a vida de tempo; & preencha-me o tempo, por piedade! 
já não sei viver alheio! sou um convite ao Diabo, oficina abandonada!
e todo o delírio, a graça do reinvento, a variedade: adjetivados!
já não há verbo. calou-se.”

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