Distraído
Sempre fui meio desligado. De andar contra a correnteza das multidões e sair embaraçando-me em destinos alheios, lendo poesia em palavras caladas e distraindo-me em detalhes despercebidos. De afogar-me na maré do cotidiano por estar entretido com o passado. E me ater aos acasos e encontros que a vida promove; deliciar meus olhos em caligrafias deixadas ao vento, meus ouvidos em conversas vizinhas, meu olfato em essências tímidas – e que para mim gritam. Ser tão impulsivo em sentimentos! E, no entanto, ser contido; tido apenas em olhares demorados, em silêncios inspiradores, em expressões faciais que revelam o que o nó dado à garganta encerra. E ser raro, restrito. De pensamentos privados e sorrisos enigmáticos. Mil-e-um deles, ambos. E quantos destes não me pertencem? Despertos num devaneio ou numa afeição instantânea... Pois apaixono-me diariamente! Coleciono o que tanto me intriga, sublinho meus interesses nos passantes, perco meu fôlego e deixo-me arrastar, almejando ser leva