Da sala ao lado
Estive tão distraído que nem vi quando ela sentou-se ao meu
lado. Puxou um fone da minha orelha e colocou em seu ouvido, sem a menor
cerimônia. E acrescentou ao seu ato:
“Eu sempre quis saber o que você escuta, sempre quis ouvir
sua voz.”
Não tive uma palavra para saciá-la, então continuou:
“Você... acredita em destino?”
“Não.”
“Por quê?”
“Seria muita pretensão acreditar em destino depois de ter
forjado tantos acasos.”
“E sonhos?”
“Se eu acredito em sonhos? Sim. Que eles se realizam,
talvez. Mas logo eu, tão cético, estou tendo meus conceitos desconstruídos neste
exato momento...”
Foi quando ela me beliscou e sussurrou em minha orelha nua:
“Eu sou real.”
E depois de dito isso ela olhou para frente, parecendo
prestar atenção na palestra que ocorria em uma dimensão completamente distinta
da nossa. Eu estava tão distante do mundo que tive de ser censurado por um
olhar que ela me lançou para que eu voltasse ao auditório. Uma multidão de
alunos tentava assistir a palestra, mas eu já não tinha o menor interesse pelo
que o palestrante tinha a dizer. Ao invés disso eu só queria escutar suas
palavras. Foi quando eu arrisquei uma pergunta em voz velada:
“Quando foi que te vi
pela primeira vez?”
“No corredor.”
“Provavelmente, é onde tudo acontece.”
“Um mundo de semi-conhecidos em convergências de intimidades.”
“E cada vez somos mais impessoais.”
“Mas por falar naquele dia, eu achei que nossos olhos nunca
se desgrudariam.”
“Eu hesitei para falar com você. E achei que te veria nos
dias seguintes.”
“Eu te procurei! Não sabia sua sala, seu curso e nem os
lugares que você frequentava. É claro que depois de um tempo a gente vai
descobrindo tudo, mas havia a ansiedade e tudo soa tão demorado...”
“Eu já sabia tudo sobre você, mas a verdade é que eu tive
receio de te ver de novo. Pela primeira vez eu não soube como agir, estive
tímido.”
“E a sua solução foi tentar me evitar? Muito bom saber como
você lida com conflitos!”
“Nunca foi uma solução.”
“Eu culpei fins de semana e feriados. Quis modificar o
calendário, adiar recessos e excluir dias vermelhos, tudo para que minhas
chances de te ver aumentassem.”
“Irônico era desviar de minha rota habitual só para te ver
passar e não ser notado.”
“Um esforço descomunal para fingir não te ver! E confesso
que por vezes valia a pena, mas eu sempre me arrependia depois.E de consciência
pesada, passava o dia fantansiando o amanhã.”
“Pensando em como você estaria vestida, no seu humor...”
“Apostava comigo mesma as suas músicas, mesmo não tendo
nenhuma dica. E me quedava curiosa, quieta com meus pensamentos, estranha às
minhas amigas.”
Sabe, é difícil conciliar a minha euforia com o silêncio que
o auditório demanda. Ter um mundo para te falar e um nó na garganta.”
“De fato, estamos atrasados para sair daqui.
“Eu adoraria.”
“Mas antes você tem que me responder novamente...”
“O que?”
“Você acredita em destino?”
“Cortar o seu sorriso com uma frase inesperada. Ou um convite: para fugir daqui.”
ResponderExcluir“Me fazer sorrir novamente sem ter que dizer nenhuma palavra para que entenda minha resposta...”
“E te puxar pelas mãos, te tocar, enfim com algum pretexto, e te levar para longe daqui.”
gostei muito de todo o diálogo, mas esse final, ah... esse final foi de arrepiar. ;)
de tirar o fôlego.
ResponderExcluiría escrever umas palavras, mas antes vi as atualizações de alguns blogs e me resolvi por ler esse texto antes.
conclusão: desisti de escrever heaioehio
sabia?
ResponderExcluirdá vontade de estar nesse diálogo. gostei mesmo. bjo
Quero esse diálogo pra mim
ResponderExcluirLindo!
ResponderExcluirDe tirar o folêgo .
Quero, este, além de frases. já o fiz roteiro e quero uma câmera! AH! haha =]
ResponderExcluiruma câmera e atores???
ResponderExcluirRemodelado.
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