Vênus

Não pude me conter. Ao seu lado eu era inquieto e meus pensamentos se enrolavam.
De olhos nus, a me observar com certo apreço e contendo suas palavras com vírgulas cuidadosas e leve sonoridade. Falava perto de meu ouvido, quase como uma confissão, sem se importar com a multidão ao redor.
E, de tão próximos, eventualmente nossos corpos se encontravam e o contraste de sua delicadeza a meu lado ressaltava-se.
Seus lábios tremiam. Os meus, provavelmente, também.
Alguém me dissera ser a manifestação do desejo. Talvez fosse, eu não tinha por que duvidar. As minhas dúvidas eram de curiosidade, de ansiedade em conhecê-la, de decifrar os detalhes de seu corpo que gritavam, que se manifestavam em resposta às minhas caras.
Seu sorriso discreto era indescritível; Calava-me as questões do viver por uma fração de segundo, saciava todas as necessidades que eu poderia ter, exceto a de poder chamá-la de minha.
Mas, em meio à multidão, seu sorriso se desfez e ela recolocou seus óculos. Encarou-me por algum tempo e me deixou, com seu nome ecoando em minha mente durante toda uma noite pela frente.

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