Turista
Pediu-me um cigarro, eu disse que não fumava; Pediu-me um gole, eu disse que era água; Pediu-me, então, um segundo e eu quase disse que não tinha relógio, mas era ser egoísta demais, então me sentei. Era um banco de madeira, que era para ser branco, mas descascado e imundo não fazia jus às pretensões dos cidadãos. Tudo bem, era só mais uma das inúmeras coisas que não seguiam o ritmo da metrópole: ele, o banco e ele, o turista. A impaciência estampada em meu rosto logo se desmanchou. Não por que as palavras dele me interessavam – mesmo por que até este momento ele não tinha dito nada – mas pela feição que ele ostentava e que despertou-me alguma curiosidade. Era mais um personagem fruto do cotidiano apressado que se instaura no labirinto de concreto, e aquele fruto, mais do que maduro, jazia ao pé da árvore que eu adoraria dizê-la frondosa, mas a julgar por seus produtos preferi interromper minha caracterização. "A vida pode ser estranha" foi como ele começou aquele diálogo.