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Mostrando postagens de outubro, 2009

Chuva

Abre o vidro por que precisa de ar. Está abafado e seu coração está disparado, portanto nada melhor do que deixar o ar fresco invadir aquele cubículo minúsculo, porém ele abre pouco para não molhar o estofado – chove lá fora. Chuva fina, mas constante. Coreografia milenar! E apresentações espontâneas por todos esses dias de outubro. A graça do espetáculo sempre foi essa: pegar o público desprevenido e aí que se confere o que é arte de verdade! Apenas alguns sabem apreciar o espetáculo de ver o céu cair e se renovar em sua plenitude inatingível. A brisa vem suave e envolve o corpo suado. Trás o frio da noite para dentro e em poucos instantes arromba os pensamentos acelerados e desperta o instinto humano. Ele precisa de uma blusa de frio, então se contorce no banco e estica a mão para pegar o agasalho no banco de trás. É uma blusa cinza e macia, uma de suas preferidas e, normalmente, em seu estado normal, ele ficaria em êxtase de usá-la, porém nesta noite ele prefere passar frio a vesti-

Imprevisível

atualizado em 06/08/2012, Raquel Guimarães. De tanto te ler textos não escritos eles se vão, por que, antes deles, esvaem-se as possibilidades de concebê-los: perco a vontade. Peco em adiantar-me! Tantas cenas que não serão filmadas por que eu li o roteiro para saciar tua ansiedade... ou seria eu o ansioso? Com a inquietação de quem sai à rua sempre como se fosse a primeira vez e faz com que contos clássicos soem inéditos, na avidez de ver o mundo com olhos diferentes. Renovar-me e ao redor! Ter mil possibilidades de personagens, pontos de vista, mil sensações para serem encarnadas! Eu que abandono livros, filmes, músicas, até o velho lápis repousado sobre o abismo branco, apenas por que me escutas atenta e entretida. Ingênua, tomas meu tempo sem cerimônias e faz com que eu esqueça o papel. E meu papel, principal. Saibas: O lápis sente ciúmes de ti... Há histórias em gestação eterna; um vazio não proposital que lamenta suas lacunas; um silêncio clamando reinar, como antes quan

Sobre Escritores

É muita pretensão para um autor querer ser lido além da obra. Essa necessidade que os domina, permanece inescrita e morre com eles, sem que o leitor tenha uma noção sequer do tamanho da angústia com que este parágrafo foi escrito.

Sumidouro

Foi. Eu não sei bem pra onde. Sem tempo, nem me despedi. O relógio parado, mas os ponteiros sempre em movimento. E me hipnotizam, e eu perco a hora, esqueço de despedir. Os olhos não fazem companhia à água que se vai no sumidouro - quem dirá ao barco. Esqueço até do último beijo, deixo passar, assim, distraído! Marinheiro no cais, largado pra trás. A mão hasteada é a nova flâmula que dança pedindo atenção. Os olhos acompanham a água que por eles desce. No meio dos rios deste corpo, um dia cada gotinha desaguará no oceano sob seus pés e levará em líquido as palavras que não saíram pela boca. Gota por gota aumentando o rastro que deixa o meu barquinho de papel à caminho da valeta: rastro de tinta, tinta de uma carta de despedida. E despedida, ah! despedida que se faz dolorosa! Tudo indo ralo abaixo.