Às vezes, de uma forma muito curiosa, a gente conhece uma pessoa igualzinha a nós: ainda que não seja nosso sósia e não se pareça em nada em absoluto, observamos os mesmos hábitos, o mesmo jeito de falar, uma postura perante ao mundo muito semelhante à nossa, à quem nós somos. Eu desconfio que isso se passa, eventualmente, com todos nós, embora nem sempre sejamos capazes de notar tais reflexos ou associá-los. O que eu acho o mais curioso, no entanto, é que a nossa capacidade de julgar se altera drasticamente: ao nos darmos conta da oportunidade de confrontarmo-nos percebemos quanta admiração e quanto desprezo nutrimos por nós mesmos. Esses momentos de pequenos embates ideários são decisivos para que percebamos a forma como nos comportamos e, às vezes, até a forma como negamos e persistimos em um ceticismo quanto às características que não queremos nos enxergar. Tais estranhos, tão familiares, passam em nossas vidas como um susto, um pequeno cisma em nossa compreensão da realidade. M