KALLISTI
Um dia disseram a Narciso que ele tinha um cheiro próprio, inebriante. Encantado com o elogio, ele estranhou: tínhamos cheiro? Sim, todos temos cheiro, mas o dele era tremendamente maravilhoso. Que era uma pena que ele não sentisse seu próprio perfume: sublime! E que a tragédia da vida fosse essa: não poder sentir-se por inteiro. Que essa incompletude era terrível, mas que para Narciso devia ser pior! Que se ele pudesse, algum dia, da forma como fosse, que prova-se a si! Mas vaidade exaltada é feito punhal, se perde aos veios da carne; Quando já não bastam espelhos, contorcem-se os reflexos agoniados À Narciso faltaram sentidos para se exprimir.