A Vontade e a Moral

Sabe aquele papo de “Faze o que tu queres” e de que esse Querer é de uma esfera Essencial e supra-racional? Um Querer que é do terreno da Vontade, e não do desejo, e que obedece a uma lógica que transcende a consciência do indivíduo, embora seja intrínseca, e ainda, transpessoal?

Pois se estamos prontos para considerar que somos movidos por uma motivação primordial que norteia nossas existências mesmo inconscientemente, logo podemos admitir que tudo o que restringe a livre expressão dessa Vontade é um obstáculo, também primordial. E, assim sendo, o indivíduo que possui uma Vontade potente, possui também um código de conduta bem delineado que lhe é impeditivo nas ações que contrariam a expressão perfeita do seu Querer. 

Sendo assim, chegamos à ideia de uma moral individual e intrínseca que é produto da projeção dessa Vontade. A princípio pode-se pensar que essa moral não existe objetivamente e é mero contraste dessa potência, uma antítese, reflexo da projeção. Mas não é bem assim. 

As conhecidas “quizilas” nas religiões afro-brasileiras nos ilustram um conceito de uma aversão natural e espontânea por parte de uma força da natureza (Orixá) em relação a objetos ou situações extremamente específicas. É como se aquela energia simplesmente não comungasse com uma lista de coisas irreconciliáveis com a sua natureza. Tais antipatias mal podem ser contornadas e levam à desgraça o indivíduo que as desafia deliberadamente. 

Da mesma forma, o aspirante que é capaz de formular a si mesmo como essa potência de expressão perfeita deve conseguir observar o inconveniente e o incompatível consigo, sem fantasiar que inexistem limitações para a execução do seu Querer. Só através da sinceridade é que ele estará apto a reconhecer a verdadeira natureza de seu Ser que atesta e endossa a sua Vontade. E é através desse reconhecimento que convertemos nossas limitações em impulsos para a manifestação do nosso Ser.