Sobre a Inteligência

No início do nosso relacionamento a Raquel me falou uma coisa que mudou a minha forma de me perceber. Ela me disse: “você é a pessoa mais inteligente com quem eu já me relacionei”.
Eu não me achava inteligente. Eu me achava uma pessoa interessada. Sou alguém esforçado, determinado, com muita disciplina e alguma ambição. Mas eu não tinha claro o que era ser inteligente. Pra mim, inteligente era quem era reconhecido dentro de sua área de expertise. Pra mim, inteligente era quem publicava artigos e tinha renome, alguém aplaudido socialmente. 
Percebe que a minha ideia de sucesso intelectual estava ligado à aprovação dos demais? Eu sempre entendi que a inteligência é uma virtude coletiva, que ela não se encerra na pessoa, você não pode se autorreferenciar, chamar a si mesmo de inteligente é de uma arrogância criminosa que dói no ouvido de quem escuta. Parece que é um adjetivo que você precisa receber dos outros, até porque é uma qualidade comparativa: inteligente em relação a quem? Ou ao quê? Qual é a métrica de quem exalta esse pobre humano?
À parte dessas considerações, a confissão despretensiosa dela foi para mim uma emancipação. Eu não sabia da minha insegurança, eu não sabia da minha necessidade de aprovação, eu não tinha consciência dos eufemismos e sinônimos que eu encontrava para descrever uma característica que era importante para mim, mas que eu não sentia merecer. Pertencimento, eu nao me sentia parte daquele vocábulo. Mas, delicada e sigela, ela me coroou. 
Para o leitor pode parecer algo simples, uma troca de carinho entre amantes, uma memória emocionada ou algum tipo de autoafirmação, mas a verdade é que aquelas palavras mudaram toda a minha estrutura interna. Ter o apoio e o reconhecimento de alguém que você respeita às vezes é o suficiente para que toda uma nova perspectiva se abra diante de si. Novas possibilidades de exploração, de autodefinição, do entendimento de quem se é, e consequentemente, uma nova leitura de mundo, das pessoas, de suas qualidades.
Quando ela me nomeia ela me mostra alguém que só ela pode ver, alguém que eu sou e que até então me era inédito. Ela me mostra outras projeções do meu eu, a própria alteridade. E é pelo contraste com o outro e suas impressões acerca da gente que podemos nos redefinir. A gente nunca sabe que é mal resolvido consigo mesmo até que nos deparemos com nossas sombras. E só temos êxito no enfrentamento quando nossas referências são sólidas. A solidez das nossas virtudes é adquirida na experiência humana, na troca, nas conquistas e na celebração dos nossos projetos, no entendimento e na aceitação das nossas derrotas, na demarcação correta das nossas emoções. Com isso eu quero dizer: muitas vezes uma palavra, um gesto, é mais poderoso do que anos de análise ou outras abordagens frias e distantes, que não tocam realmente o coração do sujeito. 

Eu sou inteligente. Mas não pela quantidade de livros que leio, ou pela forma como eu elaboro as minhas ideias. Eu sou inteligente por permitir que o conhecimento flua através de mim e alcance quem se dispor a recebê-lo. Hoje eu não vejo a inteligência como uma conquista, um atributo pessoal e intransferível. Muito pelo contrário, entendo como uma espécie de estado de espírito de quem se dispõe a compartilhar seu entendimento de mundo. Organicidade no trato com o saber. Inteligência não é sobre frieza e cálculos, é sobre a expressão mais adequada, fluidez, o encaixe perfeito na equação, a variável do contexto. Em outras palavras, o algoritmo da inteligência é a sensibilidade - e a capacidade de responder a ela com assertividade. 

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