Amor, Temor & o Delineamento do Sagrado
O Deus de Terror da tradição judaico-cristã nos soa antinatural e pouco apelativo. “Por que eu cultuaria uma divindade da qual eu tenho medo? Por masoquismo? Por algum sentimento de culpa intrínseco? Ou qualquer necessidade de compensação da vida?”
Bem, é impossível ignorar todos os registros emocionais que as religiões trazem consigo. Há um traço psíquico muito característico que os seguidores de cada vertente religiosa herdam e cunham em si. O estado de consciência que os cultos provocam vão criando uma mácula psicofísica que agrupam os fiéis em rebanhos muito típicos.
Mas, para aqueles que enxergam para além da religião e passam pelo processo extático do misticismo, entende-se o atributo do terror: contemplar o inefável é ATERRADOR. Confrontar o infinito provoca no mínimo o medo, mas costuma resultar em loucura. A incapacidade de traduzir intelectualmente e sensorialmente aquilo que transcende todos os parâmetros prévios, e que não pode ser categorizado de nenhuma maneira, é uma experiência que define a finitude da consciência. Quando o homem se encontra com a divindade diretamente, ele cessa de existir. E não por fusão ou arrebatamento, mas por desencontro de si. A vastidão de Deus nos desencontra…
Dessa maneira, o misticismo é o contínuo preparo de consciência para o encontro de Deus. E o fiel que é prudente clama pela manifestação da divindade em sinais claros e inteligíveis, para não ser confrontado pelo inexprimível e quedar sem palavras - para todo o sempre.
Também, assim, é fácil entender o temor ao divino: as narrativas de seu temperamento difícil e caprichoso são uma metáfora adequada para a imprevisibilidade daquilo que se é impossível conhecer intimamente. E as interpretações literais fazem pouco jus à poesia das múltiplas faces da divindade. Um novo testamento, mais enfocado no caráter amoroso dessa divindade busca não o destaque de uma qualidade do sagrado, mas um enfoque da virtude necessária ao místico para desenvolver sua consciência a ponto de contemplar de maneira mais autêntica a infinitude de Deus.
Através do amor, portanto, é possível contemplar aspectos inéditos da realidade e, comungando deles, integra-los, expandindo nossa consciência - e, assim, a consciência do sagrado. O amor, dessa maneira, é a chave da integração, do macrocosmo. E o temor, por sua vez, é o que delineia a nossa finitude, o microcosmo.
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